João Maria: interpretação da Campanha do Contestado

da sua provação, começada muitos anos antes e que estaria prestes a concluir.

E, se o pesquisador for além, verá que, assim como ele é considerado santo pelo sertanejo, santas são as cruzes que plantou, santas as árvores sob as quais pousou, milagrosas as águas que apontou às abluções dos seus amigos e nas quais se dessedentou. Tudo o que se refere à vida de João Maria ainda é, ali, santificado pela presença da sua lembrança.

No entanto, isto tudo, que leva ainda hoje à presunção de um fanatismo religioso, vindo assim a confirmar o conceito de ter havido, no passado, uma luta puramente religiosa, este mesmo fanatismo pela sua pessoa, ainda sobrevivente, não admitindo o rústico, sem advertência de sobrenatural castigo, qualquer ofensa à sua memória, não levanta hoje, em armas, a quem quer que seja.

Não parece estranho?

Dir-se-á que as populações apresentam outro nível de cultura, já recebem instrução, inclusive a religiosa, já são assistidas, inclusive de sacerdotes, que as furtam a um fanatismo pernicioso.

Nada mais inexato, embora certas sejam as premissas.

A cultura, se não é a mesma, porque dinâmica, não admitindo um estacionamento que a condenaria à extinção, não repeliu os traços do passado. Mesmo mais instruído, ainda que influenciado pelos traços levados por outros grupos que se localizaram posteriormente na região, o traço do passado, neste particular, resiste e persiste e, diga-se mais, no trabalho aculturativo, foi um dos que o sertanejo emprestou aos novos grupos que se localizaram na área de que fora antes o principal ocupante ou nas suas proximidades.

O sertanejo, é óbvio, não recebeu apenas novos traços que integrou na sua cultura; cedeu-os também

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