momento, na manutenção do movimento. Negamos, isto sim, que tenha sido a sua causa determinante, o seu fator preponderante, ao qual caiba a primazia no desencadeamento da luta - isto é - que a campanha do Contestado tenha sido uma luta religiosa, na verdadeira acepção que a esta é emprestada. Para sermos exatos, diremos mesmo que, antes do desastre do Irani ninguém falara em movimento religioso, ninguém atribuía um fanatismo desta natureza aos sertanejos.
É o que, aliás, com o presente trabalho, pretendemos provar.
Com efeito, se atendermos aos exemplos de que está e repleta a História, as lutas religiosas possuem traços inconfundíveis, inabaláveis, perfeitamente definidos, que as identificam nas suas origens e nos seus objetivos.
A origem repousa sempre no sentimento de intolerância. Não há luta religiosa onde predomine o sentimento de mútuo respeito às crenças alheias.
Os objetivos, estes sim, variam. Mas, em todos eles, diferem os grupos antagônicos em choque, por haver um que agride o outro que sofre, um que deseja impor a sua crença e outro que a ela reage, um que investe e outro que repele.
Assim, encontraremos em primeiro lugar a reação de um grupo, ocupante de uma determinada área, que não admite, dentro dela, a coexistência de outra doutrina que não aquela que tradicional e oficialmente professa - tanto faz que seja levada de fora, por elementos estranhos ao grupo, incumbidos de propagar e difundir uma nova doutrina, como que seja aceita pelos elementos do próprio grupo, tomada de empréstimo a outros que já a aceitam. De qualquer forma, verifica-se que uma parte do grupo apostata e, ou defende o direito da liberdade de culto contra a intolerância do elemento tradicionalista, defendendo, assim, a coexistência, ou torna-se agressivamente