Não é menos exato que a muitos repugnou a ideia de que a Igreja tivesse interesse em semelhante luta, não só porque jamais duvidaram da sua prudência e sabedoria, como porque assistiram ao esforço paralelo e sincero dos seus ministros para evitar a convulsão que redundaria, em última análise, na criação de enormes dificuldades ao seu ministério evangelizador nos sertões. Não obstante, em determinada altura dos acontecimentos, aceitou-se que a sublevação tivera a sua gênese no fanatismo católico de uns pobres matutos transviados e mal orientados que, instruídos num saudosismo anacrônico, desejavam a volta ao regime monárquico e o restabelecimento de uma religião do Estado - religião que seria a sua, o seu catolicismo, um catolicismo deformado pelas pregações de um ignorante.
Foi para defender uma liberdade de culto para o resto da Nação e para defender o regime - que afinal nunca estiveram ameaçados - que se fez apelo às armas, quando a verdade era bem diversa, pois o que se fazia era agredir, sob o pretexto de uma prática religiosa que afinal era assegurada pela Constituição, um grupo de sertanejos que se avolumava dia a dia, levados a se unirem menos por um sentimento de exaltação mística do que por circunstâncias que foram lembradas e citadas mas nunca avaliadas na sua verdadeira extensão e tomadas na sua exata importância na gênese do movimento.
Em tempo, no decorrer do presente trabalho e na recomposição das fases que antecederam à deflagração do movimento, abordaremos estes assuntos, nas suas premissas e nas suas conclusões.
Quanto ao movimento pseudorrestaurador, foi uma comédia burlesca introduzida num drama pungente e o restabelecimento de uma religião oficial era assunto que transcendia à capacidade compreensiva dos "fanáticos".