Capítulos da história social de São Paulo

Pequenino, a sumir numa basta, negra e lisa cabeleira, raquítico, corroído pela malária, amarelecido e anemiado pela anquilostomiase, chagado pelas endemias, sente-se nele não o "Homem devorado pela terra" do grande Euclides, mas sim o homem comido pelo micróbio, tornado mais voraz pela falta de resistência orgânica contra essa série de seres patológicos alienígenas, que o índio desconhecia e contra os quais, portanto, não se adaptara a segregar anticorpos.

Teria sido o guainá das priscas eras quinhentistas o ser depreciado e franzino que hoje nos confrange, como o índio moderno em geral? Não temos elementos para julgar, mas penso que o elemento humano americano, em geral, não seria, nesses tempos longínquos do berço vicentino, muito apreciável, sob o ponto de vista genérico de eficiência, se ele vivia em uma guerra constante contra os obstáculos tremendos e repetidos que uma natureza férrea e inclemente lhe antepunha. Assim fatigado e depauperado pelas intempéries e pelas arestas vivas de uma vida madrasta nas selvas de um continente opulentíssimo em organismos inimigos do homem, onde tudo desfila majestaticamente em cenário grandioso, o índio não podia ser um apolíneo e eficiente parceiro no parco da cimentação dos alicerces de nossa terra.

Não temos dele nada que nos testemunhe uma pureza escultural de linhas físicas, morais, intelectuais, fisiológicas, etc. Todo o nosso julgamento sobre esse nosso remoto antepassado se baseia em hipóteses e estas não nos desvendam um quadro muito lisonjeiro. É por isso que fazemos do índio uma representação em que ele não se destaca muito pela eugenia.

É possível que em regiões como as do Paraná e do Paraguai para o sul, como em alguns pontos de Mato Grosso, o stock humano aborígene fosse melhor, com gente mais forte e bela. Acredito porém que, em regra, o homem americano não fosse um soberbo animal castiço, magnífico representante do gênero humano,

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