a nata de sua aristocracia. Foi uma verdadeira seleção regressiva a sofrida pela velha Lusitânia.

Daí o decurso longo do domínio espanhol sem que houvesse uma só tentativa seria de revolta. A gente portuguesa estava privada dos seus expoentes mais valorosos; apenas o pior elemento havia ficado, elemento incapaz de combater, despido de espírito aventuroso, e que, às agruras proporcionadas pelos areais mogrebianos e pelo esgrimir mortífero com os infiéis de Marrocos, preferiu os confortos das lareiras portuguesas junto aos saios das mamãs ou jalecos dos papás, nas quintas e aldeias do Tejo, nas charnecas do Minho ou nas serranias da Estremadura e da Beira.

Sem essa gente insofrida e combativa que havia morrido sob o ferro inclemente do agareno de Molei Moluco, Portugal não reagira e ficara como um cadáver sessenta anos, sob o domínio espanhol, até 1640.

O que houve no decurso desses sessenta anos é do relato de outros capítulos deste trabalho.

Até 1598 reinou Filipe II, o "demônio do sul". Nessa data seu filho Filipe III subiu ao trono e então os negócios da península foram entregues ao Conde de Denia. Esse monarca deu início à Guerra dos 30 anos, sem embargo de que sua filha Anna d'Áustria fosse rainha de França, casada com Luiz XIII e sua nora, a princesa Elisabete, casada com o príncipe herdeiro, fosse também francesa, filha de Henrique IV e irmã de Luiz XIII. Filipe III reinou até 1621, quando, ao falecer, as monarquias peninsulares passaram a ser governadas por Filipe IV que, pouco ativo como todo Habsburgo espanhol, deixou os negócios dos reinos entregues ao conde-duque de Olivares.

Em 1640, quando a Espanha ainda estava envolvida com a Guerra dos 30 anos, Portugal, por fim, saiu da modorra e da inércia em que a falta de seus melhores homens o tinha mergulhado desde a fatídica batalha de Alcacer-Quibir. Eis a restauração operada com a aclamação do duque de Bragança. Esse movimento, ainda que levado a efeito com o