PREFÁCIO
PODE-SE CONSIDERAR a bibliografia histórica republicana, nos seus variados aspectos, como extremamente abundante. A massa imponente de estudos sobre o regime se distribui em todos os campos da historiografia, desde as narrativas sistemáticas de conjunto, até a publicação de documentos, passando pelas memórias e depoimentos, as biografias, os ensaios interpretativos e os estudos teóricos ou doutrinários de caráter jurídico, político, literário, econômico ou sociológico. Se se fizer um levantamento comparativo entre toda essa gama de estudos históricos sobre a República e aqueles referentes ao Império, não sei qual dos dois grupos, hoje em dia, será mais numeroso. Aliás, a equivalência em volume e importância das duas bibliografias é perfeitamente compreensível, uma vez que a República já dura entre nós quase tanto quanto durou a Monarquia, mesmo considerada esta na sucessão de regimes diferentes, que existiram entre 1808 e 1889. Não esqueçamos, na verdade, que a Monarquia brasileira está longe de apresentar, mesmo no plano político, a unidade remansosa que observadores superficiais nela proclamam. Não foi só nos setores estranhos às instituições políticas que a Monarquia foi abalada por movimentos profundos tais como a luta entre Estado Unitário e Federação; as crises financeiras; o desenvolvimento industrial; a conquista do trabalho livre; as relações entre a força militar e o poder civil; os deslocamentos das correntes de população