assinatura de Francisco Dias de Ávila. É provável que acreditasse mais na eficácia da carta assinada pelo sertanista, com quem tantas vezes se defrontara. Talvez pensasse, ainda, que as ordens dos governadores prescreviam, com a sua substituição nos cargos ocupados. Mas o que ele não previu é que Francisco Dias de Ávila se aproveitaria da devolução da carta do governador para arguir que fora desdenhada pelo destinatário, o que, sendo uma perfídia, não poderia deixar de envenenar o espírito do governador, prevenindo-o contra o capuchinho.
Não atino, também, com a razão que o levou a calar-se, quando os jesuítas o procuraram com a ideia de formarem uma espécie de frente única contra o poderoso senhor da Casa da Torre. É verdade que ele já havia aconselhado Francisco Dias de Ávila a procurar entender-se com os poderosos jesuítas. Porém seu silêncio fica parecendo uma deserção, visto que, até então, havia sido o mais veemente lutador, na resistência às manobras de Francisco Dias de Ávila. Era levar muito longe a fidelidade ao compromisso de silenciar a sua intervenção junto ao sertanista, quando tal gesto poderia comprometê-lo junto à ordem religiosa de mais prestígio em Salvador.
O próprio equívoco de que se valera, usando expressão de duplo sentido, ao redigir a carta ou o atestado dado a Francisco Dias de Ávila, e que só valeria como equívoco, diante de seu signatário. Para os outros, valeria como recomendação, que poderia proporcionar ou facilitar a Francisco Dias de Ávila as honrarias que estava pleiteando junto à própria autoridade régia. Era como essas ironias que só conseguem passar como ironia aos que as proferiram. Mas tudo isso revela, realmente, uma alma simples e ingênua, inocente e confiante.
Um dos relatos mais importantes de frei Martinho de Nantes é a narrativa da guerra a que esteve presente, travada contra os índios dos arredores do rio S. Francisco. A aldeia em que servia como missionário recebera ordem do governador para acompanhar a expedição, organizada por Francisco Dias de Ávila, para vingar a morte de 85 moradores da região e a destruição de muitos de seus currais. Como os índios não queriam seguir sem a presença de seu valoroso missionário, frei Martinho se incorporou à expedição. A batalha decisiva se travou às margens do rio Salitre, que, nos cálculos de Halfeld, ficava a 138 léguas da foz do S. Francisco, o que revela a profundidade atingida pelo povoamento na década de 1670 a 1680.