Eça e o Brasil

arranjando-lhe emprego. Mas a Independência pôs termo a tais planos. O desembargador voltou a Portugal e possivelmente teve influência na nomeação de Fernando para o cargo rendoso que acabou por obter, e no qual morreu, poucos anos depois.

A estreia literária do Dr. Teixeira de Queirós tem lugar em 1840, quando, quartanista, publica, na "Crônica Literária da Nova Academia Dramática", de Coimbra, a balada "D. Elvira e D. Ramiro". É a história de uma donzela e do seu cavaleiro, por este proclamada, em justa de cavalaria, "das belas a mais formosa". Ensaia-se também na prosa. Publica, na mesma Crônica Literária, a novela histórica "O mosteiro de Santa Maria de Tamarães".

É uma crônica de feitos heroicos, passada no tempo de Afonso Henriques, em que se contam as ações esforçadas de Gonçalo Hermingues, por alcunha o "Traga-Mouros".

Rocha Martins salienta que, na época, ainda não haviam surgido os romances de Alexandre Herculano. O moço acadêmico deve ter-se inspirado em Walter Scott. A prosa em que se expressa tem cadência e colorido. Veja-se este trecho:

"Pela alvorada de um dos dias do começo de junho, ouvia-se o estrondo do compassado andar dos cavalos pelas calçadas das ruas desertas de Coimbra. Iam montados neles alguns cavaleiros que, com as viseiras caladas, não podiam ser conhecidos. Eram Traga-Mouros e seus companheiros de armas, que seguiam a caminho de Lisboa a guerrear a mourisma. Dai a pouco viam-se já trotando para além das ruas e apenas se distinguiam pelo reflexo do sol batendo-lhes na armadura."

No último ano do curso, dos prelos da Imprensa da Universidade sai a sua principal obra, O castelo do lago, poema em sete cantos, em cujo prólogo o autor reconhece a influência de Castilho. Também aí há castelos, cavaleiros que pelejam na Terra Santa, duras refregas e juras de amor.

Os que se detiveram no poema do Dr. Teixeira de Queirós, não deixam de assinalar, em obra tão romântica, propriedade realista da adjetivação, em que o filho seria mestre. Um círculo se estabeleceu entre filho e pai. Este de certo modo prenuncia a nitidez com que aquele viria adjetivar. E Eça, numa das suas figuras de poeta romântico, deixa uma imagem que lembra a do pai, nos detalhes da vida, e até no ritmo dos versos que lhe atribui.

Eça e o Brasil - Página 57 - Thumb Visualização
Formato
Texto