o fascínio do encadeamento da vida e das pessoas, a misteriosa profundidade histórica de cada homem, sempre nele presente. Também ouso fazer apreciações sobre o caráter de cada um dos personagens que participam na correspondência, ora publicada, para além do que escrevem, na base da intimidade e da afinidade que histórias ouvidas por tantos anos acabaram por criar entre mim e essas figuras, que se situam quase dois séculos atrás.
Esta coleção de cartas caracteriza-se por uma unidade que lhe vem de duas condições. Por um lado, todas elas, de uma maneira ou de outra, estão ligadas ao problema da Independência do Brasil, tal como vivido em Salvador. Por outro, são praticamente todas endereçadas, por parentes seus, a Luís Paulino d'Oliveira Pinto da França, que nesses anos foi deputado pela Bahia às Cortes Constituintes. Baiano de nascimento, jurista, bom poeta, militar, herói das campanhas napoleônicas e também político e diplomata, que morreu marechal-de-campo do Exército português. Uma personalidade de grande vigor, com todos os atributos da geração que em Portugal marcou a introdução do romantismo. A sua vida, os seus afetos e sobretudo a sua morte enquadram-se na gesta do herói romântico.
Há quatro gerações, desde o regresso a Portugal, que circulam na família saudades e mitos da Bahia quente, sensual e misteriosa. D. Antônia, D. Sebastiana de São Francisco, D. Maria de Jesus,(1) Nota do Autor linha matriarcal de enérgicas senhoras de engenho, que, no Recôncavo, nascem, amam ou, pelo menos, casam e procriam, sucessivamente, desde os princípios do século XVII, com homens vindos de Portugal em busca de glória, poder e fortuna. Delas saem, nos fins do século XVIII, duas gerações de Pinto da França, baianos com um pé lá e outro no norte de Portugal.
Vão e vêm sempre em relação com as figuras literárias, políticas e militares da sua época: períodos de vida no remanso de quietas e bucólicas quintas, no ambiente conservador de Penafiel, nos círculos intelectuais e neorrevolucionários das academias coimbrãs, no labutar pacato-burguês de comércio do Porto, em destemidas