latinas, mas reporta-se, constantemente, aos novos conceitos românticos de pátria, nação, Independência e poder constitucional. É impressionante a violência do seu amor pelo marido, como violentos são seus sentimentos em relação aos seus inimigos. Como certo tipo de apaixonados, mostra-se generosa, capaz de perdoar. Não se sujeita à orientação dos filhos já homens, nem lhes aceita os conselhos. Prefere enfrentar as dificuldades e decidir só, nos momentos mais difíceis, quer nas crises financeiras, quer políticas. Ciosa das suas prerrogativas, é ela quem determina, na administração do engenho, os empréstimos a obter, as letras a lançar.(5) Nota do Autor Contra a opinião de seu filho Bento, é ela que assume a responsabilidade de sair de Salvador e partir para o interior, dominado pelos rebeldes, quando lhe parece perdida a causa portuguesa. A ter-se enganado, isso teria acarretado retaliações políticas, incluindo confisco de bens.
As saudades, o desespero, a intensa paixão pelo marido nunca se sobrepõem ao seu sentido da responsabilidade, e vemo-la resistir à tentação de tudo abandonar para regressar a Portugal e ali realizar o sonho, diversas vezes descrito, de se retirar com Luís Paulino à paz romântica de uma quinta do norte. E certamente este autodomínio que explica a paradoxal sensatez e a objetividade com que essa mulher tão apaixonada julga os acontecimentos políticos da sua época, e a energia com que condena quer os radicais portugueses, quer os extremistas brasileiros. E ressalta das cartas que a distinção entre brasileiros e portugueses, ou "europeus", era já uma realidade, antes da Independência. Luís Paulino era "brasileiro", porque nascido na Cachoeira, e ela portuguesa, porque de Penafiel.
A certa altura, Maria Bárbara resume numa só frase o estado de espírito que parece animar os autores das cartas e explicar o equilíbrio das suas posições. "Amo Portugal, gosto do Brasil e desejo o bem, pois não sou egoísta nem ambiciosa", escreve ela, em 13 de abril de 1822. E, dois dias mais tarde, afirma com altivez: "Tu bem sabes que eu sou imparcial e, como tu, amo o que for de justiça". Com notável clarividência observa em maio seguinte: "Não se iludam aí: nada fazem com os brasileiros pela força. Doçura e mais doçura, igualdade e mais igualdade". E, em agosto, conclui, com indignada veemência: "Os brasileiros não são enteados, são filhos".