Cartas Baianas: 1821 - 1824. Subsídios para o estudo dos problemas da opção na Independência brasileira

mostra-se frio e inteligente, um embrião do líder que viria a ser. Nota-se nele menos calor e fantasia que nos pais.

Luís acorda uma certa ternura, pelo fulgor de uma juventude só e angustiada. Não parece muito inteligente nem muito ambicioso, mas, inexplicavelmente, deixa-nos uma impressão de charme sensual e secreto, vítima de um doce cativeiro tropical, que terá saboreado dengosa e persistentemente, nos longos períodos de isolamento no engenho. Enraizado no Brasil, só por respeito ao pai, adiou quase até ao final a sua adesão aos revoltosos, e é bem interessante acompanhar a evolução dos seus sentimentos através da correspondência. O pensamento dos dois irmãos, a cada nova carta, avança em direções opostas, como ondas causadas na água das suas vidas pela pedrada violenta daqueles acontecimentos incontroláveis, que, aos poucos, os ultrapassam.

Uma só carta de Maria Sabina confirma a personalidade suave, dócil e vulnerável ao amor, que ressalta das referências da mãe. Viveria obcecada pelo amor a um marido que a ignorava, mas que a fascinava na sua truculência de macho e de bravo exaltado. Seria moreno, grandes bigodes, olhos em brasa, a exprimir comunicabilidade e entusiasmo muitas vezes violento. E ela a apagar-se, loura, pálida e mansa, disposta a ver a única filha morta ser substituída por bastardos morenos que, mais tarde, cairiam avidamente sobre a herança.

Maria Francisca,(6) Nota do Autor a filha temporã, tem só sete anos, é a fixação da mãe e nela se terá fixado para morrer solteira, poucos anos depois dela. Mas também a indefinível Mimi deixa a sua marca nas cartas, numa curta frase, à guisa de post-scriptum, em caligrafia incipiente, a enviar beijos ao pai. E uma gota que se alastra pelo colorido da vida quotidiana, em meio à tempestade ameaçadora que envolvia a família. Ressurge do anonimato para se finar, talvez amarga, em 1859, aos 38 anos, deixando em testamento, a seu sobrinho Salvador, português, distante, o sobrado da Bahia, com seus móveis e escravos. Mas Salvador, talvez exausto pelas responsabilidades da Pasta da Guerra, em governo Regenerador, morrera, entretanto, e é seu irmão Bento que obtém

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