Cartas Baianas: 1821 - 1824. Subsídios para o estudo dos problemas da opção na Independência brasileira

dos sobrinhos e enteados autorização para dissipar o último penhor baiano, dando, de Lisboa, instruções para a sua venda.

Outros interlocutores se somam a este núcleo central. Alguns dos muitos irmãos de Maria Bárbara também escrevem do Rio ou de Penafiel e do Porto. Tão diferentes uns dos outros! José, o amigo de sempre de Luís Paulino, é um espírito esclarecido e universal, o bravo da Campanha da Rússia, vigoroso, mas desiludido pela amargura das acusações de "afrancesado". Como ele, liberal, mas, no entusiasmo dos vinte anos, é Antão Garcês, futuro barão da Várzea, romanticamente envolvido nas primeiras "cruzadas" antiabsolutistas de 1824. Antônio Garcês, ouvidor e provedor de justiças no Rio, prudente, sem heroísmos nem fantasias, manifesta uma mentalidade de pacato burguês de toga e cortesão conformista. Dos irmãos Henrique e Feliciano não há correspondência, mas as referências de Maria Bárbara pintam-nos como gananciosos, conservadores e retrógrados no seu extremismo pró-português; o apoio dado ao partido da Praia, composto dos exaltados comerciantes portugueses de Salvador, ter-lhes-á custado os bens avidamente acumulados e levado à sua expulsão do Brasil. E variado o quadro da família Garcês... Só a sogra de Luís Paulino não se revela nas duas cartas impessoais que escreve de Penafiel para o genro, então em Lisboa, nas agitadas lides das Cortes Constituintes, na difícil e pouco retributiva posição de se opor a excessos, quer portugueses, quer brasileiros, e de não trair a fidelidade patriótica que o ligava, fatidicamente, ao mesmo tempo a Portugal e ao Brasil e que afinal o levaria à morte. Essas duas cartas de D. Maria Libória Máxima Guilhermina são apenas pequenos "exercícios", em estilo barroco, de uma dama provinciana do século XVIII, que pouco ou quase nada nos dizem sobre o personagem, ricaça local, neta da judia de costumes ligeiros, conhecida como "Teresa, a douradinha", que pelo casamento viera restaurar a fortuna abalada dos seculares sargentos-mores de Penafiel.

Muito mais reveladoras são as duas cartas de Salvador Pereira da Costa, baiano, filho de mineiros, pai de Maria José, nora de Luís Paulino e futura condessa da Fonte Nova. Oportunista, caçador de favores, consegue, em poucas linhas, traçar o seu espírito azedo de intrigante aproveitador. E aproveitou tão bem que, de vagamente militar, passando por revolucionário de última hora, chegou a encarregado de negócios do Brasil em Lisboa. Uma das suas cartas e alguns comentários de Maria Bárbara deixam adivinhar o personagem.

Em maio de 1822, encontra-se de férias em Portugal, com sua mulher. Procura tirar partido da influência de Luís Paulino,

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