lamuria-se, queixa-se de falta de dinheiro e insiste, não hesitando, videirinho, em intrigar por ganância para que ele o consiga embarcar de graça numa corveta da Fazenda Nacional. "V. Ex.a, para beneficiar-me, o que deve fazer é dirigir-se amanhã à casa do Quintela, ministro da Marinha, a pedir-lhe que lavre uma portaria para que o comandante da Regeneração dê, ao coronel Salvador de tal, um dos camarotes da câmara que estão destinados a oficiais subalternos que vão de passagem, inclusive um capitão de Pernambuco que vai encaixar-se na Legião, não sei para quê; até seria bom que o desembarcasse para não ir preterir os oficiais de cavalaria, que hão de arder com este despacho, e assim tenho eu cômodo", conclui com desfaçatez. De regresso a Salvador, Maria Bárbara acha-o muito obrigado a Luís Paulino. Era, então, malvisto por os do partido brasileiro, refugia-se mesmo em casa d'um cônsul por nome Pennel, mas, em 1823, já havia mudado de campo: iniciara a sua carreira brasileira. Luís Paulino já não lhe interessa, é mesmo uma ligação perigosa, e Maria Bárbara, a 25 de agosto, mergulhada em desgosto e humilhação, por ter visto que não admitiam seu marido em Salvador, escreve amargamente a Luís Paulino, que acabara de seguir para o Rio: "Da nossa pobre Sabina ainda não tive notícias. Seu marido não fez o favor de procurar-me, nem o Sr. Salvador. Santas gentes! Mas isto me não dá cuidado! Pobres ingratos, eu vos carpo!"
Assim vivem, se agitam e se revelam esses interlocutores da poderosa figura de Luís Paulino, formando um leque de personagens da sua época que, milagrosamente, emergem de um maço de cartas preservado. Esse maço terá viajado com Luís Paulino de Lisboa à Bahia, da Bahia ao Rio e, em fevereiro de 1824, terá sido abandonado com os seus papéis, quando do brigue Glória lançaram ao Atlântico o corpo que, horas antes, ainda quente de paixões, sentimentos e ideias, escrevera um comovedor e literariamente brilhante soneto de despedida a todos os que amara. Esse espólio terá sido entregue um mês mais tarde a seu filho Bento, levado a Lisboa pela morte do pai.(7) Nota do Autor Terão as cartas vindo ainda uma vez à Bahia, antes de regressarem, definitivamente,