Cartas Baianas: 1821 - 1824. Subsídios para o estudo dos problemas da opção na Independência brasileira

a Portugal, passando alguns meses nas gavetas dos gabinetes do Estado-Maior Liberal, na ilha Terceira, onde Bento, livre enfim de hesitações, participava nos preparativos do Mindelo? Ou terão ficado logo a repousar, esquecidas, nos arquivos da família, algures, no norte? Por que as conservaram, se não tiveram o mesmo cuidado com as respostas, certamente mais valiosas, de Luís Paulino? É certo que Maria Bárbara as terá guardado, religiosamente, no seu sobrado do Campo de São Pedro, em Salvador, para consolo da sua longa viuvez de 28 anos. Leu-as e releu-as tantas vezes que se desfizeram? Foram destruídas ou jazem, esquecidas, em algum caixote, por descuido dos parentes brasileiros, só voltados para o futuro e, a partir de certa altura, obcecados por problemas de sobrevivência financeira, que não deixavam lugar a qualquer outra preocupação?(8) Nota do Autor

Sob o ângulo histórico, o estudo das cartas implica aprofundado conhecimento da Independência baiana. Para portugueses, e até para muitos brasileiros, as circunstâncias especiais que condicionaram a independência em cada região esbateram-se no fenômeno geral da Independência global do Brasil, que se apresenta, no fundo, como uma transferência fraternal, sem solavancos ou choques violentos. Ora, na Bahia, a evolução não só foi particularmente complexa, como se processou através de trágicas e graves tensões entre os campos mais extremados. Na maioria do Brasil, a transição fez-se com o poder nas mãos de portugueses ou brasileiros, flexíveis ou moderados, conscientes da inevitável evolução. Na Bahia, um erro de Lisboa, no início da crise, colocou no governo militar da província o general Madeira, homem honesto mas rígido, muito pouco inteligente e que, para sua desgraça, se deixou dominar e isolar por uma camarilha saída do partido "praísta", ou seja, dos ricos comerciantes portugueses da Cidade Baixa. Estes julgavam em risco os seus interesses e, além de fanáticos sem visão, eram homens de pouca educação, liderados por um grupo de mau-caráter.

Madeira mostrou-se mais "papista" que D. João VI: nunca compreendeu as sutis nuanças que homens esclarecidos e realistas,

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