Cartas Baianas: 1821 - 1824. Subsídios para o estudo dos problemas da opção na Independência brasileira

para esmagar o levantamento, como os rebeldes as não tinham para entrar na cidade, que, contudo, foram subjugados pela fome.

Em 18 de agosto de 1823, por uma manhã de cerração e aguaceiros, Luís Paulino chegou à baía de Todos os Santos, encarregado de transmitir a Madeira as ordens de D. João VI para se render, sob o eufemismo de "cessar todas as hostilidades para evitar mais derramamento de sangue". Foi ainda a bordo que alguns ingleses lhe vieram contar como as tropas portuguesas haviam cedido ao cerco pela fome e embarcado para Lisboa, seis semanas atrás, dois de julho. Terá visto a família ainda a bordo do brigue-correio Treze de Maio, enquanto aguardava permissão para desembarcar. A sua ida ao palácio do governador foi uma experiência dolorosa. Baiano de coração e por sangue, via-se apupado, ao longo das ruas, pelo povo excitado por seus antigos inimigos, que traduziam em traição o fato de ser portador de uma mensagem de D. João VI. Fica-se tão só quando nem os nossos nos compreendem e escarram na pureza das nossas intenções, para que o mundo não seja perturbado e continue arrumado em seções, clara e confortavelmente delimitadas e separadas. Quanto mais largo o horizonte, mais pesada a cruz. Tentar conciliar, buscar o compromisso, é desafiar a guerra. Das intervenções de Luís Paulino, nas Cortes Constituintes, ressaltará, como das cartas, a límpida e quixotesca vontade de harmonizar e poupar, por justiça e mútua compreensão, os desgastes de divórcios e quebras. O saber que nada é definitivo e tudo complementar! Assim, também nesse dia, a Junta, lidos os documentos que trazia, invocou razões de segurança pessoal e decidiu que, de imediato, se recolhesse a bordo, sugerindo, qual Pilatos, que levasse a mensagem ao Rio. A tempestade fechou a baía e permitiu que Luís Paulino estivesse com os seus, pela última vez, mais uns dias, até 22.

Como dizer tanta coisa em tão curto tempo, no desconforto do camarote escuro? Conforto para o seu coração, dividido entre Portugal e o Brasil, terá sido saber que permanecia na Bahia através de seu filho Luís, que, entretanto, fora nomeado ajudante-de-campo do general Labatut e entrara na cidade, à cabeça das tropas triunfantes. No desejo que Bento lhe exprimia de regressar a Portugal, tendo recusado, com dignidade respeitada, aderir à nova ordem, ele terá visto a projeção do seu outro eu e a continuidade dos laços com Portugal. Com Maria Bárbara detalhou o sonho, tantas vezes considerado, mas que para sempre ficaria sonho,

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