Cartas Baianas: 1821 - 1824. Subsídios para o estudo dos problemas da opção na Independência brasileira

No, da aniquilação, passo tremendo, / Escudo-me da sã filosofia, / Terror humilde, o rosto não m'enfia. / Como Catão morreu, eu vou morrendo!

Mas ah tu, d'alma, nobre qualidade, / Saudade cruel co'o sofrimento / Me arremessas às marés de ansiedade...

Mulher... filhos... amigos... num momento, / No momento do adeus pra eternidade / Vós sois o meu cuidado, o meu tormento!

Baralhavam-se as cartas do destino. A 30 de setembro de 1821, em vésperas da partida para Lisboa, a caminho das suas funções como deputado às Cortes Constituintes, Luís Paulino, no testamento redigido no sobrado ao Campo do Forte de São Pedro, em Salvador, dispunha: "Não quero que me façam honras fúnebres pomposas, nem ofícios, nem armações de casa e igreja e determino que o meu cadáver seja envolto num lençol de pano pobre, que testemunhe bem a humildade que devemos ter diante de Deus e o nada que somos. Quero que os pobres conduzam o meu cadáver à sepultura, que será na freguesia onde eu falecer". A oito de janeiro de 1824, o cirurgião do brigue Glória certificava que, naquele dia, pelas onze horas e meia da manhã, havia falecido de tísica pulmonar o Ex.mo Sr. marechal Luís Paulino d'Oliveira Pinto da França e "o comandante mandou preparar um caixão e mais preparos no qual foi metido o dito marechal com os uniformes que lhe eram correspondentes, para que, com a decência possível, fosse lançado ao mar, cuja ordem foi executada à uma hora da tarde, depois das cerimônias que foram possíveis fazer-se em tal lugar", que era, conforme também nos informa o certificado do comandante, "na latitude de 4° Norte e 37 minutos, de longitude ao oeste de Greenwich".

Assim se cumpria a morte destinada, bem diferente da imaginada. Pompa, em lugar de pobreza, mar, em vez de terra. Uns momentos de espuma, e as cartas já não tinham destinatário.

Mas nada se começa como nada se acaba, a roda gira e torna a girar. Só a visão trágica e poética dos homens concebe com princípio e fim as coisas imóveis no espaço da eternidade. Desceu sobre Aramaré o silêncio e a poeira foi apagando paisagens, recordações, e até o próprio nome era já só letras alinhadas sem localização exata. Tudo parecia morto, mas, pela misteriosa cadeia

Cartas Baianas: 1821 - 1824. Subsídios para o estudo dos problemas da opção na Independência brasileira - Página 25 - Thumb Visualização
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