de todas as coisas, a ilusão da feira das presenças recomeça: é jogo fascinante este de flutuar entre a ilusão e a consciência da realidade.
Iniciei, do Rio, pressões sobre o Jaime da França Dória, um dos parentes ainda em Salvador, para ali descobrir a exata localização do engenho, que as informações dos documentos deixava indefinida: algures nas vizinhanças de Santo Amaro da Purificação. Lógico se procurasse nas imediações de São Pedro de Tararipe, de Rio Fundo ou de Conceição de Jacuípe, onde haviam nascido e morrido as avós baianas. Por que não admitir que o engenho viera à família por herança da mãe de Luís Paulino ou que seu pai, Bento José de Oliveira, o comprara nas redondezas do "quartel-general" da família de D. Maria Francisca de Jesus Ferreira d'Eça e que, em vez de a encontrar em algum sarau provinciano de Santo Amaro, a terá conhecido e cortejado em visita e relações com outros senhores de engenho, instalados pelas vizinhanças de Aramaré, que acabara de adquirir? Outro dado a considerar era a referência nas cartas de Maria Bárbara a banhos medicinais no rio Pojuca, quando de estadias no engenho. Mais a jusante, mais para a nascente, num ponto das suas margens deveriam ficar as terras que, em certa altura, se haviam chamado Aramaré. Por fim, chega a informação ainda vaga de que Aramaré jazia lá para o município de Terra Nova, realmente a poucos quilômetros de São Pedro, numa terra de fato nova, que os documentos antigos não mencionam e a história não refere.
Em setembro de 1975, parti para Salvador disposto a visitar Aramaré. Por uma manhã chuvosa, deixando a Sofia e os outros na esforçada tarefa de turistas, arrastei o Jaime da França Dória, ao volante do Brasília novo e reluzente, a caminho da grande aventura que sempre é "descobrir" ou "voltar".
Percorremos rapidamente, até o quilômetro 60, a estrada carregada e neutra que liga Salvador a Feira de Santana. Entramos na picada ensopada, à direita, e demos logo boleia a um transeunte, que nos serviria de guia e que, pelos 12 km até Terra Nova, nos contaria que vendia a vaca para acudir ao irmão hospitalizado, que ia visitar. Mas nem o irmão nem a vaca distraíram os meus sentidos, que quase sempre me trouxeram a sensação de ter abandonado, de um momento para o outro, o meu mundo, para mergulhar na vida açucareira dos princípios do século XIX. A estrada mais que rudimentar, transformada em açorda, desenrolava-se entre mares de cana, de que emergiam, de onde em onde, no alto de colinas, imponentes e velhas igrejas setecentistas, em