desproporção com minúsculas aldeolas ou engenhos semiabandonados. Por nós cruzavam imensos carros de bois, carregados de cana, conduzidos por pretos de calça arregaçada e largos chapéus de palha, cavalicoques montados em pelo. A meu lado, o Jaime da França Dória sofria a cada buracão da estrada ou sempre que ficávamos atolados: para ele a visita ao engenho velho não valia o carro novo. De tempos a tempos, eu exigia que parássemos e perguntava às gentes que nos cruzavam a pé: "Sabem onde é Aramaré?" Depois de vencida a confusão que lhes fazia a minha pronúncia desconhecida e de repetida a pergunta, abanavam, vagarosamente, a cabeça.
Por vezes, a minha curiosidade não tem limites. Obriguei o pobre parente a desviar à direita para metermos o nariz numa igreja barroca e arruinada que se descortinava da estrada, no alto de uma colina. Desembocamos na única rua, mais uma vasta praça a monte, ladeada de casebres, tendo ao fundo - vestígio do passado rico - a igreja simples e caiada, mas de proporções imponentes para aquele cenário pobre. Alguns chamados em altos brados, a ecoar na praça deserta, fizeram aparecer uma mulher de grande chave na mão. Novos interrogatórios. Estávamos diante da matriz de São Pedro de Tararipe do Rio Fundo. Os documentos antigos e vagos começavam a tomar forma. Ali, pois, se haviam batizado, casado e enterrado aquelas distantes avós baianas. Entrei na ânsia de lhes ver o túmulo, de sentir, talvez, roçar por mim, ao de leve e como brisa, os cabelos soltos das mortas que hoje têm só nome e sangue em mim e em mais alguns. Mas, apesar do abandono secular do grande templo despido, as sepulturas antigas haviam sido removidas. Recomecei, porém, a viagem com um sentimento mais concreto daqueles nomes e daquelas gentes, cujo mistério eu remexia. Escassos quilômetros adiante, anichada num vale, surgiu-nos Terra Nova. Ao chegarmos à ponte arruinada, escolhi um velho preto, de bigodes e cabelos brancos, largo chapéu de palha, capa aos ombros e enormes botas enlameadas, para novo inquérito. Desta vez, a resposta veio afirmativa: conhecia Aramaré, que era do "coronel" Luísinho Dantas, mas ficava a mais de 6 milhas e lá só chegaríamos a cavalo. E mais não disse. Terra Nova nada tem de novo, nem de antigo. Vitória incipiente, deve talvez o grau de município às ambições e manobras de políticos que precisam de uma câmara municipal para se elegerem e logo se esquecerem dos seus eleitores. Como muitas dessas vilas pobres do sertão, casas de aspecto enxovalhado, nas cores mais variegadas, porcos e galinhas pelas ruas. Indicam-me a vivenda da cunhada do "coronel" Luísinho. Uma velha mulata esfíngica levantou