Economia e sociedade do Rio Grande do Sul: século XVIII

Neste livro sobre o Rio Grande do Sul no século XVIII, nosso historiador analisa as formas induzidas e espontâneas do povoamento daquele "continente" - espaço vazio entre o Prata e a colônia portuguesa das capitanias -, a chegada e a disseminação do reino animal - vacas, bois, cavalos, éguas, ovelhas -, as primeiras culturas do trigo, do linho-cânhamo; os contatos amigáveis e hostis, entre brancos e índios, portugueses e espanhóis, a inserção do sistema produtivo no quadro das necessidades locais, das demandas brasileiras em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e das expectativas coloniais da metrópole portuguesa. Corcino descreve, numa palavra, a epopeia da integração do Rio Grande ao mundo português, sob o prisma econômico, social e político. Para o gaúcho, bom saber que seu Estado nasceu comendo muita carne e exportando logo excedentes para o Brasil e até para o exterior, fornecendo animais para a economia de mineração central, comerciando com o Prata à revelia do monopólio imposto pelo pacto colonial, valorizando a terra e defendendo com ela a identidade luso-brasileira. É bom saber também que o Rio Grande nasceu dando prejuízos à metrópole, como um enclave não ortodoxo no espírito de lucro que presidia à expansão europeia, impondo-se como peça-chave de uma estratégia que subordinava variáveis geográficas, demográficas e políticas ao plano de consolidação do império português neste lado do Atlântico.

Para chegar a resultados tão expressivos, Corcino Medeiros percorreu arquivos brasileiros e portugueses, recolhendo e interpretando documentos originais. Suas conclusões enriquecem o conhecimento histórico e vão se aliar aos trabalhos de Rubens Barcelos, Jorge Salis Goulart, Manoelito Ornellas, Moysés Vellinho, Guilhemino César, Dante de Laytano e outros que já estudaram o Rio Grande do Sul. O trabalho não se apresenta de forma acabada; nosso historiador indica algumas direções de pesquisa que o complementariam: o papel das guarnições militares, o papel da real feitoria do linho-cânhamo - uma interessante e fracassada alternativa econômica para o continente de São Pedro -, as relações do índio com o mundo dos brancos, o estranho comércio com Buenos Aires, onde a prata espanhola e o escravo português eram objeto de troca.

Economia e sociedade do Rio Grande do Sul (século XVIII) prende a atenção do leitor de início a fim. São informações objetivas, ligadas às fontes históricas e ordenadas logicamente, linha após linha. Corcino tem seu método: faz uma história simples e consistente, mais próxima do empírico do que da abstração universalizante. Usa uma quantidade enorme de dados estatísticos, como gosta de fazer a nova história, quando pode. Não é, porém, um quantitativista radical, ao estilo da New Economic History. Está mais próximo da Histoire Sérielle definida e defendida por Pierre Chaunu do que da economia retrospectiva de Jean Marczewski.

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