tempo fortalecer a defesa da mesma, cuidou-se logo de criar um corpo de cavalaria, o que não podia fazer na Colônia em virtude da exiguidade de espaço para as pastagens. Com esse objetivo em vista, os portugueses começaram a ajuntar grande quantidade de gado vacum e cavalar, fazendo passar a maior parte deles para a margem norte do rio, iniciando a organização da grande estância real de Bojuru(26). Nota do Autor Era necessária para a manutenção e criação da cavalhada destinada ao serviço de rondas e do gado para o consumo das tropas. Desse modo, teriam os animais nas proximidades do presídio. Para assegurar a sua conservação e facilitar o trabalho de arrebanhar maior número de animais, tratou o brigadeiro José da Silva Paes, que era homem de larga visão, de estabelecer duas guardas avançadas na distância de cerca de 15 léguas, no Arroio Taim e no Albardão. Feito isto, Silva Paes mandou vir da Colônia do Sacramento 150 homens já adestrados nas lides campeiras, tais como as tropadas, domações, rodeios, preparo do charque etc., substituindo-os por outros de infantaria recém-chegados do norte ou de Portugal. Estes elementos tinham também a tarefa de adestrar os recrutas do famoso estrategista no manejo do cavalo, pois desejava fazer de seus soldados hábeis cavaleiros. E daí que nasceu o apego do gaúcho ao cavalo, tornando-o instrumento quase indispensável para o trabalho ou para a guerra. A união do homem com o cavalo, a combinação de esforços, tanto na guerra como nas lides campeiras, eram tão perfeitas a ponto de poder confundirem-se homem e cavalo numa só peça, num só conjunto uniforme. A coordenação de movimentos era tão perfeita como se fossem membros de um só corpo.
Os homens eram acostumados a longas marchas, de mais de 20 léguas, tocando diante dos corpos a cavalhada da qual se serviam para os ataques rápidos e inesperados.
Daí serem a cavalaria e a artilharia a cavalo as armas mais adequadas ao gaúcho.
"A maior parte destes cavaleiros faz exercícios e ligeirezas tão bem a cavalo que parecem sobrenaturais. Os arreios, à moda do país, são de uma simplicidade extraordinária, de pouca despesa e mais cômodos para a liberdade do cavaleiro, assim como menos pesados ao cavalo, a que dão o nome de lombilhos, nele trazem o coxonilho que serve de cama ao cavaleiro, e o capote a que dão o nome de ponche, que tem a figura de uma casula que agasalhando o peito e as costas do soldado, deixando-lhe os braços livres para todas as ações. Além das armas ordinárias usam de uma defensiva para a qual não é necessária a forja, a corda. Não erra jamais a pontaria ou o golpe de uma corda que fazem do couro de boi com um laço numa extremidade, com outra presa ao lombilho é arrojado na carreira por um destes cavaleiros à distância de 30 passos com a velocidade da bala e com a mesma é seguro ou arrastado ao objeto laçado"(27). Nota do Autor