Economia e sociedade do Rio Grande do Sul: século XVIII

Por outro lado, da mesma maneira que nem todos os ilhéus vieram para o Rio de Janeiro de acordo com as determinações régias, também nem todos se estabeleceram em povoados segundo as mesmas determinações. Foram muitos os que vieram das Ilhas por conta própria, e apenas do Rio de Janeiro para o sul eram transportados por conta da Fazenda Real. No Rio Grande nem sempre houve possibilidade de estabelecê-los aos grupos de 60. Às vezes, as terras já estavam ocupadas por estancieiros, e quando estes tinham títulos legítimos de posse não eram incomodados, mas quando isso não ocorria eram despejados das terras. Numa relação de posseiros despejados, feita por ordem do comandante do Continente, em 25 de junho de 1789, há dois casos cujas terras passaram a ser ocupadas por casais das Ilhas. O primeiro é o caso dos "herdeiros do falecido Salvador Bueno da Fonseca", que ocupavam sem título legítimo e por isso foram despejados "de três léguas de comprido e meia légua de largo, e em partes um quarto e menos, junto ao Serro Pelado - e neste terreno ficaram acomodados 19 casais das ilhas"(14). Nota do Autor O segundo é o de José Antônio Alves, que foi despejado "de três léguas e meia de comprido e uma e quarto de largo, entre dois ramos do Piratini menor, e neste terreno ficaram acomodados 52 casais das Ilhas"(15). Nota do Autor

Os primeiros casais que chegaram e foram arranchados em Viamão esperaram vinte anos para ver cumpridas as promessas que lhes foram feitas de que receberiam uma data de terra com título legítimo, além de muitos outros favores. Devem ter passado muita penúria, e por isto não foram poucos os que se desiludiram. Vieram para o Brasil fugindo da miséria em que viviam nas Ilhas e aqui a sua sorte não melhorou muito, pelo menos enquanto não receberam a assistência prometida. Por volta de 1761, um dos cabeças de casal foi assassinado pelo filho de Jerônimo Dornelas, e o pároco local, que forneceu o atestado de óbito, registrou que era um dos casais de número e era muito pobre(16). Nota do Autor O lugar por eles ocupado era o logradouro público da estância de Jerônimo Dornelas. O que significava dizer que viviam muito mal acomodados e oprimidos pelo grande senhor, cujas terras os envolviam. Depois do assassinato mencionado, Jerônimo Dornelas, por desgosto ou por temer uma vingança da parte dos casais, vendeu sua sesmaria, que possuía três léguas quadradas, a Inácio Francisco pela quantia de oito milhões de réis. Somente em 1772 é que se fez a demarcação das terras há tantos anos prometida.

A estância do Morro de Santana era o local adequado, em virtude de sua posição privilegiada em relação ao rio Guaíba e o mar, para a fundação de um povoado. O diário de viagem de Gomes Freire de Andrade, de 1754, registra: "Dista o porto de Viamão 70 léguas para a parte do norte do Rio Grande e a ele se encaminharão todas as embarcações para entrar no rio Guaíba que fica fronteiro ao tal porto, onde se tinha feito"

Economia e sociedade do Rio Grande do Sul: século XVIII - Página 39 - Thumb Visualização
Formato
Texto