Economia e sociedade do Rio Grande do Sul: século XVIII

Prata, onde Sarmiento o encontra e descreve como o "gaúcho mau"(10). Nota do Autor Mas a incorporação daqueles elementos dispersos, no Rio Grande, não foi tão simples. Ela se deu lenta, continua e demoradamente.

Daí, em 1785, encontrar o Vice-rei Luís de Vasconcelos motivos para escrever: "De não menos providência necessitam os índios daquele continente, a maior parte dos quais faz o excessivo número de indivíduos vagos e dispersos, que vivendo à lei da natureza, sem disciplina e sem religião, se fazem quando não autores dos delitos mais atrozes ao menos sócios de todos os crimes a que os convida uma vil e insignificante recompensa. Na campanha, eles são os que concorrem para as extorsões, furtos e contrabandos; nos campos e nos estabelecimentos dos moradores, eles dão todo o auxílio para os furtos de muitos animais; nas vilas e em povoados, eles são os que fazem as mortes mais cruéis, de modo que em toda a qualidade de delitos sempre esta casta de gente faz figura e coopera para se cometerem com mais ou menos crueldade, e como não são tão conhecidos raros são, entre tantos, os que sentem o castigo para a emenda dos outros, ficando por isso sempre dispostos a auxiliá-los em qualquer lugar e contra todos. Ao mesmo passo que deles se conhecem a maior inclinação para todos os vícios e uma preguiça e frouxidão desmascarada a todo o gênero de trabalho, não deixa também de se distinguir que estes homens são robustos e sofredores daquelas fadigas a que a força os obriga, do que se segue que a falta de diligência para os reduzir a um modo de vida regular tem concorrido efetivamente para haverem tantos vassalos inúteis e que se com eles se praticasse a mesma providência de serem matriculados nas fazendas dos particulares, sendo estes encarregados de os administrar e reger como bons pais de família... Este meio serviria não só de os animar e conciliar a uma vida laboriosa, mas ainda de os separar da comunicação de outros com que se unem para cometerem as continuadas desordens a que sempre os incita a liberdade dos seus costumes"(11). Nota do Autor

Como se vê, era frequente a presença de grupos de índios e de mestiços assimilados, mas marginalizados, a vagar pelas imensas campanhas e entregues a toda sorte de crimes. Vagavam como bandoleiros, fora da lei, dedicando-se à preia do gado alçado como atividade de subsistência, ou ainda como agentes de algum estancieiro poderoso ou algum contrabandista. De qualquer forma, a presença desse elemento instável, intermediário entre a civilização europeia e a primitiva que se chocavam, incontestável. Sua contribuição na formação antropológica, sociológica e psicológica do gaúcho não foi tão desprezível.

Convém lembrar que o cognome de gaúcho era aplicado inicialmente a esses bandos socialmente instáveis e economicamente também marginalizados. Era o indivíduo sem família, sem terra e sem tradição, que

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