A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

carbonato de sódio, água e vestígios de cal, manganês e magnésio. Tal análise revelou, ainda, que, em percentagem mínima, o testemunho da potassa e da cal implicava séria advertência quanto ao perigo das ingestões da massa.

Se o barro se apega ao solo na mais intensa conexão entre a argila e o arenito, por outro lado ele vaza desmesuradamente dissolvido nos rios torrenciais. Surpreendentemente, porém, a não ser durante as enchentes ou vazantes, quando a água cava e tritura a aba aluvional, os rios não oferecem a densidade viscosa que poderia ocorrer pelo volume da terra solta em sua calha.

Normalmente, o rio se sujeita ao caixão e não se deixa envolver pela gressoldagem de que toda a calha é revestida.

Martius estabeleceu, através de um areômetro de Baumé, certas diferenças de cristalinidade aquosa. Na vazante, o Xingu teria a água mais pura; depois dele, o Tapajós. Viria depois o rio Negro, o Japurá, o Madeira e afinal o Amazonas. Não se trata de limpeza ao natural, mas da pureza da água eliminados os resíduos. Martius encontrou, na água do Amazonas, um peso específico que era idêntico ao do vinho Madeira. Os moradores achavam, e com razão, que a água colhida nos locais mais agitados era mais saudável do que aquela que aparentava tranquilidade.

Quando estivemos no Purus e no alto Acre, era comum, à falta de filtro, o uso de pitadas mínimas de pedra-ume calcinada. Era instantânea a deposição dos resíduos e a água se apresentava de uma claridade e transparência notáveis. O gosto era dos melhores e ninguém se queixava de doenças provenientes do líquido que era diária e constantemente sorvido.

Porém, a verdade é que os moradores indígenas ou mamelucos não dão muita importância ao fator da purificação. A água é bebida em qualquer borda da linfa e, como foi observado antes, desde que se trate de água corrente, não ha restrições.

Martius registrava a sua apreensão: "Costumam os índios, nas suas viagens, beber a água logo que é colhida do rio e que talvez seja a causa da verminose, entre eles tão comum e em alto grau, aos viajantes".

Tal fato nos induz à verificação de uma geofagia latente entre os habitantes de menos cuidado com as regras de higiene. Porque o modo de serventia da água, sem maiores zelos quanto à participação argilosa e mesmo arenosa no líquido, seria motivo para eliminar qualquer repugnância ante o paladar ou a ingestão dos complexos coloidais silicosos.

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