A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

As propriedades físicas do barro comestível na Amazônia foram suficientemente identificadas:

"Aparenta côr cinzenta amarelada clara, com manchas de amarelo-oca; é muito tenro e absorve sofregamente a água. Exposto ao fogo do maçarico em grumos, cheira a chamusco e dá muita água, que reage sobre amônia. Conserva bastante da sua côr; mas, queimado, torna-se mais claro. Sobre fogo forte, derrete-se ele na superfície, dando um vidrado esverdeado ou acinzentado. Com borax, dissolve-se difícil e demoradamente, dando um vidrado fracamente azul-ferrete. Umedecido com solução de cobalto aquecido, toma tonalidade azul-clara. Com ácidos, não produz efervescência, ou muito pouca. Entre as argilas coloridas, que trouxemos do Amazonas, distingue-se uma qualidade liláz, que, pelo pouco conteúdo de saibro e pela propriedade de se decompor facilmente com ácidos, difere de todas as variedades empregadas na Alemanha para o fabrico de louça de barro. Aflora em diversos lugares, por exemplo, perto da Praia-das-Onças, em Coari e Ega, em camadas espessas, porém escrevendo pouco desmerece da cor; de fratura terrosa, imperfeitamente conchosa, apega-se fortemente à língua, e desfaz-se na água, dando agregados frouxos, que, pela trituração, formam uma pasta plástica. Aquecida em ácido cloridrico concentrado, dissolve-se toda, deixando pousar uma terra silicosa pura. Esta argila é freqüentemente empregada pelos índios para a sua louça, em particular para os pratos pintados na parte interior, e toma, ao mais fraco grau de calor, a que costumam expô-la, uma tonalidade violeta-avermelhada ou violeta-pálida. Basta-lhe também um fogo brando para produzir louça sólida, semelhante, na consistência e firmeza, a muitas das louças romanas antigas. No processo do dessecamento e cozimento, contrai-se em extremo, propriedade que tem em comum com a nossa argila untuosa, e que pode ser beneficiada com o acréscimo de argila cozida ou de saibro quartzífero. Não é muito refratária ao fogo, visto a facilidade de cocção, como em geral acontece com as argilas que, com pouco fogo, se solidificam, e mais facilmente derrete do que qualquer outra, que precisa de fogo forte para se tornar sólida e, com isso, são quasi que refratárias.

Pretendemos comparar esta argila com as que são empregadas nas fábricas de louça da Barra-do-Rio-Negro, pertencentes ao governo, argilas estas particularmente notáveis por seu conteúdo de potassa. Dão esfoliações chatas, de cor francamente branco-amarelada ou branco-acinzentada, salpicada com manchas de óxido de ferro vermelho, desbotam fortemente, são de fratura terrosa conchoide, apegam-se fortemente à língua e na água não se desfazem completamente, mas dão, com isso, uma pasta muito plástica".(2) Nota do Autor

Gigantesco repositório de barro, a Amazônia se estende em estratos caulínicos que não só revestem os barrancos e os "salões" (patamares submersos) dos rios, como sustentam os rebordos dos igarapés e canais.

A sua dissolução invade os lameiros, os pântanos. Na água estagnada, o limo aparece esverdeando a superfície e a caparrosa alcatifa a linfa. No fundo ou em suspensão, a argila intumesce o flume.

Ir à pesca nos igarapés ou nos rios de leito manso é afundar no lameiro. Há mesmo terras engolideiras que absorvem gulosamente o intruso.

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