A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

nariz; de tucano (Ramphastos toco), narigudo; jacu (Penelope sp.), de cabelo branco; japu (Psophia sp.), com os dedos feios; mutum-fava (Crax sp.), com o nariz vermelho; jiboia (Constrictor sp.), cabeça chata, como de cobra; maracajá (Leopardus pardalis), com as mãos fracas, não segura coisa alguma; arara-vermelha (Ara chloroptera), nasce com bico; ariranha (Pteronura brasiliensis brasiliensis), com as mãos para trás e as palmas invertidas. Segundo os informantes de Galvão, essas crianças anormais são enterradas ao nascer, com raras exceções.(2) Nota do Autor

O processo mágico da estabilidade e da sobrevivência das sociedades tribais tem o seu desenvolvimento nas formas de resguardo, jejuns e reclusões, nas quais o alimento passa a ser selecionado, limitado ou proibido.

Os ritos e cerimoniais são antecedidos e sucedidos das mesmas reservas quanto às comidas que podem ou não ser admitidas ao repasto do paciente. Para os primitivos, o alimento contém forças positivas e negativas emanadas teluricamente da natureza, desde o momento em que reconhecem que não basta saciar a fome, porém resguardar-se de ingerir alimentos danosos à saúde ou à quebra de valores já consagrados. Pelo menos numa tribo do Amazonas, segundo Martius, evitavam comer "pirão de mandioca", para manter a sua força muscular.

Cada tribo estabelece, ao correr dos tempos e de acordo com seu habitat, regras convencionais mágicas, visto que sempre administradas pelo pajé, único agente e profeta da hierarquia social que, por seu entendimento com a tradição e suas relações com os espíritos, sabe do que pode ou não pode ser útil à comunidade. Dessa forma há entendimento entre o rito a ser adotado e as prescrições alimentares consequentes, porquanto são muitas vezes terríveis os resultados da omissão, como já vimos.

A competição fálica exige a criança perfeita, para ser forte e viril. As regras de resguardo asseguram essa normalidade. Geralmente, dentro do comportamento da seleção túpica, o anormal é sacrificado, ainda que o infanticídio, às vezes, seja praticado quando o recém-nascido perde a mãe e não tem quem trate dele.

O sentido mágico do rito da puberdade, tanto para a mulher como para o homem, é imposto pelo pajé, com inclusão da seleção alimentar. Cabe-lhe convocar os espíritos, no rol dos quais entram os dos animais, principalmente os mais poderosos. Essa prática da

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