A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

convenção magista entre o homem e o animal remonta ao tempo do domínio fálico dos animais, com mitológicas conotações com o animal-gente. O poder fálico que deve ser absorvido e desenvolvido pelos noviços não será mantido se determinados alimentos não são devidamente hierarquizados pelo pajé.

Entre canções e danças, mescladas aos aparatos dos enfeites e das pinturas, as comidas especiais contêm a base de segurança para o sucesso futuro do jovem nas suas atividades sexuais, que garantirão a sobrevivência étnico-tribal e manterão o predomínio fálico do homem sobre a natureza. É bem verdade que o indígena não age através de uma conscientização racional desses efeitos, e sim por um processo das mais recuadas origens, resguardadas por tradições subconscientizadas nas formas da convivência social ou inscritas nos textos mitológicos. Tal fato determina um novo tipo de observação geral que é a ação ortodoxa observada nos fatos de convívio, modalidades de relações e mesmo de conceitos elementares de produção, além da sustentação mágica dos procedimentos sociais que levam a uma aproximação entre hábitos que não evoluem ou não mudam, a não ser por impactos aculturativos ou mudanças no campo da produção, da mesma forma como não evoluem e não mudam os hábitos de convivência e sobrevivência do animal. Essa conjugação de efeitos parece estar ligada ao fato de não poderem as sociedades primitivas quebrar os elos de suas antigas contiguidades biológicas dentro do reino animal. E esta manifestação de contiguidade atinge sobremaneira os povos que não conseguiram entrar no ciclo do domínio dos metais e permaneceram, pelas contingências de habitat, no ciclo fitolítico que representa a cola rudimentar do homem ao seu estado natural, propenso às superstições, contidas nos perigos dos espíritos dos animais que lhe servem de alimento.

As restrições alimentares que incluem carne apenas de certos animais têm origem — como já dissemos — no reconhecimento de que esses animais têm um espírito que sobrevive à caca morta e persegue os jovens e recém-nascidos. O perigo de absorção de certas carnes está relacionado com fases do desenvolvimento orgânico e físico do ser selvagem, que nessas ocasiões precisa resguardar-se de tais malignidades. Portanto, o alimento como impulsionador dos movimentos migratórios e assentamentos nucleares humanos implica uma tradição de saciamento, dietas, jejuns, purgas e proibições permanentes, que permite dividir em séries as regras tradicionais:

a) Nos ritos individuais, quando há necessidade de expor o paciente como alvo de uma solenidade em que parentes, amigos, vizinhos e pajés participam como nos casos de: 1) passagem para a puberdade;

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