Do pote
Da importância desse artefato relacionado entre os utensílios de barro do indígena, Karl von den Steinen destaca o realce já indicado, com uma visão mais ampla das origens dos potes:
"Os Bakairi e os Nahuquá tinham cuias e cabaças, que por sua vez faltavam às tribus ceramistas; estas as adquiriram dos Nahuquá, em cujo domínio, não sei se o cuidado especial, ou o terreno melhor, produziam excelentes cucúrbitas. Sabendo-se, finalmente, que os Waurá fabricavam potes muito bonitos, de forma e tamanho exatamente iguais aos das cuias, imitando também os desenhos nestes aplicados; que a forma original dos potes é nitidamente a das cuias para beber, e finalmente que os potes são enegrecidos internamente do mesmo modo que as cabaças, compreender-se-á a correlação. O pote índio a princípio não tinha nada que ver com o cozinheiro, serviu só para substituir a cabaça. Com esta a mulher levava água aos ranchos ou aos acampamentos. O recurso de que se serviam na falta das cabaças ainda hoje é revelado pelas cestinhas impermeabilizadas com barro, usadas por várias tribus [...] Com a repetida falta de cabaças as mulheres eram levadas facilmente a tornar mais sólidas as suas cestas para barro, aplicando este material plástico em maior abundância; podiam além disso dispensar o trançado logo que percebecem que as fôrmas de argila, depois de secas, tinham já por si suficiente resistência.
Expunham-nas ao sol ou colocavam-nas sobre o fogo, e tinham assim uma fonte mais barata de cabaças artificiais. Mas as mulheres fizeram esta invenção só depois do grupo ter adotado um modo de vida sedentário [...] Assim como as cabaças eram empregadas para beber e comer, também os potes, a princípio só serviam para esse fim. Os potes de pequeno e médio tamanho [...] são quase todos 'tigelas', não panelas. Em potes enormes cozia-se a massa filtrada de mandioca, mas ao lado disso só se cozinhava purê de frutas e, de quando em quando, um prato de peixinhos, quando não valia a pena grelhá-los".(5) Nota do Autor
Acrescenta Karl von den Steinen que cabe aos Nu-aruak o privilégio da introdução do pote no Xingu, "pois sem potes de barro e sem assadeiras de beiju não é possível a preparação da farinha, sendo os Aruak os melhores preparadores dela".
Vimos nesse último trecho a importância da invenção dos artefatos de cozinha no desenvolvimento da cultura do alimento ou as necessidades do aproveitamento da massa da mandioca e da condução de água, na ideação dos primeiros recipientes de barro.
Alimentos preferenciais dos Tukano
Os Tukano e demais povos indígenas do Uaupés evitam a carne crua e comem cutia (Dasyprocta aguti), preá, macaco, lontra (Lutra brasiliensis guianensis), capivara (Hydrochoerus capibara), coati, veado,