A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

da terra e foi carreado para os mares através dos rios — drenagem que se teria feito e se faz na base de 40 milhões de toneladas por ano. O "sal da terra" ainda na terra permanece.

Estabelecido que a salinidade marítima provém dos resíduos rochosos carreados pelos rios e que os depósitos de sal-gema no interior da terra atingem níveis imensos na Amazônia, não é demais assegurar que o caulim resultante das decomposições in loco ou de sedimentação, assim como a tabatinga, às vezes pura, às vezes arenosa, possam conter resíduos salinosos.

Pelas análises químicas, é constante a ocorrência do sal de cozinha (cloreto de sódio) na potassa ou sais de magnésio e de potássio no sal-gema.

É verdade que nas análises da argila empregadas na louçaria não aparece o cloreto de sódio, talvez por sua ínfima participação, de mistura remota no potássio. Porém, tal fato não invalida a existência dos barreiros que o gado procura para lamber.

Em recente e importante obra, Recursos Minerais do Brasil, Sylvio Fróes de Abreu abordou minuciosamente as peculiaridades da argila brasileira e especialmente da amazônica. Não deixa de anotar a peculiaridade dos barreiros do Mato Grosso e expõe os resultados obtidos pela Petrobrás, através de suas sondas, no tocante à verificação de vastos depósitos de sal-gema.

O barreiro é identificado como: "Baixada salobra e sempre húmida, que constitui gorda e excelente pastagem".(5) Nota do Autor

Henrique Silva observou o comportamento dos animais nos barreiros goianos: "os animais buscam com sofreguidão esses lugares, não só os ruminantes mas também as aves e os répteis, e que o gado lambe o chão e, atolando-se nas pôças, bebe com delícia a água e come o barro".(6) Nota do Autor

Raymundo de Moraes retratou a confraternização animal no barreiro:

"Frutos e tubérculos pobres de sal os desses lugares forçam os animais a procurarem o cloreto de sódio no solo. Acham-no. Abrem, então, enormes covas na superfície da terra, escavada a garras, a bicos, a patas, a unhas, a focinhos e abarrotam-se da matéria cristalizada e apetecida. São os barreiros, onde os bichos todos, desde os voláteis aos quadrúpedes, vão comer cantando, grasnando, uivando, fungando, chiando, numa confraternização que reflete a abundância daquele alimento mineral. A ferida aberta no chão pardo-vermelho, granulado de tanto bico e de tanta garra que o revolvem, recorda a unhada de um gigante, onde se encontrassem aves e pássaros de penas verdes, amarelas, azuis, cinzentas, pretas, a contrastarem com o fulvo molhado da onça, com o glauco-aço do tapir, com o mel-tabaco do veado, com o negro-dourado do cágado" .(7) Nota do Autor

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