A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

continuação da lenda, ao final, quando os familiares da moça foram matar o Curupira e seus parentes, "arrastaram corpo d'elles para o rio, jogaram na cachoeira"(5) Nota do Autor. Portanto, a lenda se desenrola na região das cachoeiras. É adiante:

"No outro dia, na frente da cachoeira, corpos que foram das curupiras estavam já todos numa ilha pequena. Por cima da pedra da cachoeira caruru porção se encostava. Assim foi o princípio do caruru. [...] Por isso nome dessa cachoeira ficou 'Cachoeira do Caruru'."(6) Nota do Autor

O caruru estava sempre presente nas cachoeiras do alto rio Negro e de seus afluentes a montante. Os Uaupé, que deram nome ao rio onde habitavam e que está situado naquelas alturas, extraíam o sal do caruru.(7) Nota do Autor

Sem dúvida, Sant'Anna Nery se refere ao caruru na seguinte informação:

"Dans le rio Negro, la rivière qui baigne Manaos, on extrait le sel en assez grand quantité de certaines plaintes qui possussent sur les rochers, au milieu des plus forts courants d'eau douce. C'est l'incineration de ces végétaux du genre Lacis qui donne le sel dont nous parlons. La presence de ce sel peut être attribuée à la absorption par la plante des principes salés des eaux, l'infiltration ayant rencontré dans leur course des bancs de sel gemme." (8)Nota do Autor

Em suas Lembranças e Curiosidades do Vale do Amazonas, diz o cônego Bernardino de Sousa:

"Caruru (sal vegetal). É uma das maravilhas do Rio Negro — uma espécie de caruru, que cresce nas pedras das caxoeiras, quando com a secca vão ficando descobertas. Comen-no cosido com peixe ao qual fornece o sal commun. Déste caruru sabem os indios extrair o sal com processos mais grosseiros, sem dúvida, mas na essência os mesmos que outros mais civilizados poderiam empregar."(9) Nota do Autor

Lino de Macedo, onde o cônego Bernardino de Sousa se apoiou, escreveu:

"O caruru é planta que produz uma espécie de sal vegetal. Os índios colhem a planta, seccam-n'a ao sol, carbonisam-n'a, depois de bem secca, dissolvem a cinza em água, filtram-n'a em folhas seccas, evaporam-n'a ao fogo e assim obtém o sal, que não é muito puro, porque o filtro que empregam, de folhas seccas, não pode reter em si todas as impurezas. Outra utilidade d'esta planta, menos apreciada, porém não menos

A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica  - Página 32 - Thumb Visualização
Formato
Texto