A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

real, consiste em que crescendo ella nas cachoeiras e justamente nos logares por onde é preciso arrastar as canoas, que procuram as margens na subida dos rios, serve esta herva de leito ou almofada, a qual ellas resvalam mais facilmente e sem offensa do casco."(10) Nota do Autor

Seria o caruru alimento do peixe pacu, chamado cumaru na região do Maroni, nas Guianas, e, por isso, o caruru era chamado, aí, de cumaru nianiã (comida de Cumaru). Essas plantas são de várias espécies. "Contudo, parece, que os índios delas se aproveitam, conseguindo, após incineração desse caruru, cuaruru ou caruré [...] um pó de sabor amargo, que lhes supre, de algum modo, a falta do nosso sal."(11) Nota do Autor

Ao subir o rio Cuminá, Gastão Cruls se impressionou ao ver em algumas cachoeiras "pedras cobertas de espesso lençol de Podostemonáceas". Os raios de sol lhes irisava a alcatifa (a que se refere Lino Macedo) em "tons verdes, amarelos, pardos, vermelhos e alaranjados". O uapê-das-cachoeiras (caruru) teria "minúsculas flores róseo-arroxeadas". Essa paisagem policrômica foi comparada pelo botânico Weddell a um "tapete de rosas".(12) Nota do Autor

Ao gênero Lacis, como anotou Sant'Anna Nery, pertence a espécie de caruru descrita por Cruls. Segundo este, há, porém, outra espécie: a Mourera fluviatilis, a que já nos referimos, de hastes florais erguidas sobre as águas e de cor rósea, formando manto. Suas folhas ficam submersas. Essa mourera, também citada como produtora de sal, abunda nas regiões encachoeiradas.(13) Nota do Autor

Nunes Pereira informa que os índios Ingaricó (rio Cotingo) secam as folhas do caruru ao sol e

"ajuntam pequenos pedaços das mesmas a outros pedaços de folhas de fumo, e, dêsse modo, preparam uma "mecha", que mantêm entre os lábios, dando-lhes movimentos rotativos, quase sem parar, absorvendo com saliva o suco das fôlhas de fumo e o sal que o caruru contém."(14) Nota do Autor

Esse vício era observado também, apenas com o tabaco, entre mulheres rurais e urbanas, que usavam pedaços de "tabaco de corda" ou charutos, com o que lixiviavam os dentes.

Não só o caruru-das-cachoeiras para obtenção do sal. Conforme a região, mudavam as fontes de material salinoso: "Os Cauaiua-Parintintins

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