2. As dificuldades iniciais do comércio do sal
A todo instante o cronista reflete a desolação dos grupos humanos pelas dificuldades do acesso ao sal. Advertindo sobre a má alimentação no campo e nas cidades, João Severiano da Fonseca acrescentava:
"Mas o sal faz muita falta. Outro inconveniente que deriva da falta deste complemento é que, se a caça ou a pesca são abundantes, não há como conservar o supérfluo e os habitantes comem até a indigestão, para não perder nada."(23) Nota do Autor
Assim é explicada a voracidade do indígena, mesmo depois de aprimorar o sistema do moquém, que, ao desidratar a carne pela fumaça, lhe dá maior resistência à deterioração.
Os Xavante não conheciam o sal e os Pareci vinham, desde a serra do Norte até Diamantina, São Luís de Cáceres e Cuiabá (Mato Grosso), trocar borracha por ferramentas e sal.(24) Nota do Autor
Por um paneiro de sal, os demais índios trocavam provisões, como peixes, que duravam 14 dias para mais de seis pessoas.(25) Nota do Autor
Durante a Guerra do Paraguai, os brasileiros isolados no Mato Grosso tinham as suas maiores preocupações voltadas para o sal. Então tinham que apelar para as salinas bolivianas. Os cargueiros do país vizinho chegavam de longe com sua preciosa carga, mas cobravam, às vezes, "1:300$ o alqueire".(26) Nota do Autor
O sal chegava a valer como moeda e, no século XIX, descia da região dos Mainas, no Peru, famosa por ser entreposto e feitoria das riquezas mais procuradas na bacia.
No aproveitamento culinário da produção fluvial e lacustre, era observado o profícuo labor desenvolvido nas "salgas", após a regularidade