A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

da invasão do sal na planície, nas proximidades dos portos centrais de escoamento. Essas atividades, entretanto, não eram limitadas aos peixes; atingiam, nas ilhas, as marrecas, no preparo de "fazer o barril".

Dividido pelos Andes, o Peru espalha cidades mais próximas de um comércio fácil com o Amazonas do que com o Pacífico, através das gargantas da cordilheira. Mainas era uma região banhada pelo rio Maranhão, nome que toma o Amazonas nas suas cabeceiras. Descendo por ele, chegava-se à Província do Rio Negro (hoje Estado do Amazonas) pelo Solimões e por essa rota era estabelecido o comércio com Ávila, Baeza, Arquidona ou Macas, e, provavelmente, com os povoados fronteiriços, hoje Cochabamba, Loreto e Iquitos. Essa rota do sal vinha desde as montanhas.

"Por meio destas plantas e de paliçadas com que barram as entradas nos riachos, os índios pescam tantos peixes quanto queiram; defumam-nos em grelha, para conservá-los e raramente empregam o sal, se bem que o sal não lhes falte; os índios de Mainas extraem sal fóssil das montanhas próximas das orlas do Gualaga."(27) Nota do Autor

Foi esse comércio que transformou Iquitos num empório de projeção oriental peruana, porto final dos navios que sobem o Solimões, desde Belém e Manaus. Visitamo-la em 1925 e já era uma bonita cidade, com um cais lançado em cantaria, vários prédios e belas avenidas. Os habitantes mais modestos apresentavam-se na praça principal, aos domingos (onde uma banda de música alegrava o povo), bem-vestidos, as moças enfeitadas, mas descalças. Havia na época muitos chins e casas de ópio. O contrabando usual eram papéis para cigarro (abade), baralhos e perfumes. Um par de sapatos custava uma fortuna. É a vida na cidade parecia evoluir num ambiente de clã, com certos hábitos da civilização incásica.

Iquitos era caminho forçado das velhas rotas de Mainas, que, em 1820, já fazia farto intercâmbio de drogas (especiarias). É ao meio dessas atividades de comércio sobressaía o sal, o qual, pela distância, não chegava ao oeste amazônico, permanecendo a leste, onde se manifestava com intensidade a cobiça espanhola.

O comércio do sal no Solimões era um dos mais caros e lucrativos — e, por isso mesmo, bem disputado.

Difícil se tornava trazer o sal pelo Atlântico e levá-lo às plagas banhadas pelo Purus e Madeira. O sal descia pelo rio Maranhão (faixa do rio Amazonas no Peru), invadia a fronteira brasileira por Tabatinga e era distribuído até as alturas de Egas e Coari:

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