A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

mais fácil e, certamente, de gosto apurado pela contaminação de vermes. É de advertir que são designados como de "cumpim" quaisquer montículos de terra que abrigam formigas. Ao abrirem canais, como túneis, nas paredes das casas (dão preferência à madeira), os cupins também levantam um corredor coberto por uma crosta pardo-escura, dentro do qual se abrigam. Trata-se de contextura quebradiça, leve.

Em segundo lugar, é atestado que, a esses índios, não repugnava a ingestão da areia das praias, de onde concluímos que qualquer terra lhes servia de alimento, desde que nela fosse encontrado o laivo salobro.

Em terceiro lugar, passamos a saber que, se há tribos inteiras que se alimentam de terra, outras não o fazem, como os Juruna, de onde poder a geofagia vir a ser um vício de herança.

Sobre os Crichaná, diz Barbosa Rodrigues: "Não fumam. Seu vício é mastigar terra".(10) Nota do Autor Informa, ainda, que os Crichaná perdiam muito cedo os dentes da arcada superior, não só porque com eles partiam cocos e ossos, como porque mastigavam "carnes duras, às vezes cheias de areia, e pelo hábito de mascarem argila, conhecida por tabatinga".(11) Nota do Autor

A mistura de argila com outros alimentos é anotada por Martius:

"Na espessura de seis a oito pés, as barrancas são de areia misturada com algum humo e vasa, tendo por cima uma tabatinga cinzenta, amarela ou esverdeada. Os nossos índios saboreavam essa argila misturada ao pirarucu e à mandioca, e, daí em diante, tivemos freqüentes oportunidades de verificar que o singular costume da geofagia é conhecido entre todos os habitantes índios, embora nem todos o pratiquem. Não duvido que esse desejo de comer terra se apresente análogo ao da fome, não, porém, com idêntica sensação. Quando interrogamos os nossos índios por que razão, não lhes faltando o alimento adequado e preferido, também comiam o barro, eles não davam outra resposta senão que sentiam um indefinido bem-estar depois de terem enchido o estômago com certas porções de barro do peso de algumas onças".(12) Nota do Autor

Martius atribui a dilatação estomacal à "falta de cuidadosa dosagem dos alimentos dados de uma vez a crianças não desenvolvidas" ou ao clima quente que, ao produzir "forte pressão no sangue na periferia do corpo, decorrente do calor, possa despertar sensação de vazio (inanitas), para cuja satisfação o homem primitivo inconsciente recorre a tão indigesta comida".

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