de Arquitetura Civil está em campo diverso que é o de informação, profunda e inteligente, do ambiente científico da Metrópole. E, sob este aspecto, não resta dúvida que está a pedir mais demorado exame por parte dos estudiosos da história cultural de Portugal.
Na documentada biografia do clássico brasileiro que as letras luso-brasileiras passam a dever ao erudito historiador que é o Sr. Ernesto Ennes, vem relatada a peregrinação de Matias Aires, por cinco anos, pelas escolas e centros intelectuais de Paris onde se graduou em ambos os direitos e foi aluno, nas disciplinas físicas e matemáticas, de Godin e Grosse. E o Problema de Arquitetura Civil é quase exclusivamente a exposição, em muito boa línguagem portuguesa, das teorias físico-químicas em voga na França. É esta, precisamente, a outra face de Matias Aires, mas já aqui apresentada em seu completo desenvolvimento que Alceu Amoroso Lima observara no seu prefácio à edição das Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, ao ver diluído o ceticismo filosófico do autor diante do estudo das ciências naturais influenciadas pelo racionalismo experimental de Newton e de Locke.
As questões relativas à construção dos edifícios foram simples pretexto de que se aproveitou Matias Aires para divulgar ao público da língua portuguesa, tudo que chegara ao seu conhecimento e as conclusões dos seus estudos e das suas experiências, sobre os fenomenos naturais.
A teoria central das ciências naturais da época era a do flogístico que devera o apogeu a que atingira aos trabalhos de J. Ernesto Stahl (o doutíssimo, e experientíssimo artista, Problema, I, p. 119) e segundo o qual todos os metais possuíam um princípio incombustível que se eliminava pelo aquecimento e que constituía a causa da maior ou menor ductibilidade dos sólidos. A doutrina dominou todo o pensamento científico do século XVIII e só caiu depois das experiências definitivas de Lavoisier que o levaram à lei da conservação da matéria (1777) e que consistiram em pesar os metais, antes e depois de aquecidos, e determinar o aumento de peso devido à oxidação pelo oxigênio do ar. Ora, a perda do flogístico devia importar em redução do peso, isto é, no oposto do que se verificava. A teoria do flogístico cedeu, assim, o lugar às leis que até hoje se mantêm. Estavamos, portanto, no período de nascimento da ciência moderna. Mas, quando Matias Aires estudara em Paris, as doutrinas flogísticas imperavam sem reservas e constituíam o fundamento