As Minas Gerais e os primórdios do Caraça

Pode-se pretender que, em suma, a história do Caraça é a história de um refluxo, o refluxo mineiro. E que a obra de Frei Lourenço ainda representa, quando muito, um pensamento à espera da boa oportunidade para se converter em ação. O que nela se preparou, segundo vem descrito nas páginas seguintes, ainda pertence propriamente à pré-história daquele refluxo.

Fiz hum triunfo d'Inverno,

despois será o do Verão,


como no auto de Gil Vicente. "Bom português como sempre foi, o ermitão-mor do Caraça não teve o senso da previdência: operou no plano do imediato, franciscanamente, como um pobrezinho de Deus que também foi. Em toda a sua obra, afora uma certa predestinação da previdência no campo estritamente religioso, não se encontram rigor de coisas planejadas nem método em sua realização."

Não admira, pois, se essa obra do eremita resulta, ao cabo, numa ruína triste. Já antes de sua morte começa a desabar todo o trabalho de sua vida. Mas era um perder-se provisório: como o grão de trigo do Evangelho, precisava perecer para poder crescer e dar muito fruto. O que neste primeiro volume se conta, e admiravelmente, é ainda a história da penitência e do sacrifício. Depois será a da ressurreição.

SÉRGIO BUARQUE DE HOLLANDA

As Minas Gerais e os primórdios do Caraça - Página 13 - Thumb Visualização
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