As Minas Gerais e os primórdios do Caraça

diante de pormenores de redação. Não caberiam, aqui ou ali, formas menos frondosas, arroubos mais submissos, parcimônia maior em julgamentos de valor? As perguntas que muitas vezes me fiz, e ao autor, no curso de leitura atenta, e em muitos pontos reiterada, pois os capítulos não só se sucediam, mas constantemente se refaziam e aperfeiçoavam em versões novas, logo foram encontrando resposta ou, melhor, deixando entrever uma urdidura que antes se dissimulara no meio da intricada trama.

Reduzido ao seu tema central, o livro começa realmente com o sexto ou o sétimo capítulo e não acaba com o décimo, último deste volume: o que ali, de fato, se mostra, é a própria história do Caraça, desde os dias em que o misterioso Irmão Lourenço de Nossa Senhora se embrenhou naquelas montanhas. Mas inserta no conjunto, a figura do hospício e o colégio pode assumir conteúdo simbólico, dando à história de Minas Gerais e do Brasil uma dimensão nova, que já agora não é lícito ignorar. As terras do ouro, durante a maior parte do século XVIII, tinham sido um mundo aluvial e inconstante, como a própria riqueza que se esvaia das lavras. No entanto, esse mesmo mundo, frenético, dissipador, aventuroso, impaciente de qualquer comando, e que todo ele girava à volta de apetites materiais e bens da fortuna, irá surgir depois tão transfigurado que parecem extintas as marcas de sua feição antiga. Quase nada restará daquelas velhas Minas Gerais, onde a cobiça afanosa mal deixava espaço para o recolhimento da alma, e de onde os próprios frades e os conventos se achavam exilados. No seu lugar vamos ter outras, bem diversas, a que o prestígio dos dons do espírito, das disciplinas humanísticas, das virtudes intelectuais, da sobriedade, da prudência, da discrição, da poupança, empresta um timbre singular.

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