O Conde dos Arcos e a Revolução de 1817

"continuou daí em diante mais acelerado, sob o influxo das escolas da Voltaire, Jean Jacques e Diderot, fazendo sentir profundamente a necessidade de uma reorganisação qualquer. A primeira dessas escolas auxiliou pelo modo mais poderoso a desorganisação final da ordem intelectual precedente, a segunda trouxe consigo a ruina da antiga ordem política; mas qualquer delas era impotente para construir, em virtude dos princípios exclusivamente negativos de sua constituição.

Pombal era discipulo da escola de Diderot. O absolutismo das teorias metafísicas não o entusiasmava, nem lhe pervertia o senso prático. Sabia bem que só como força demolidora valiam essas teorias, aliás impotentes para realisar qualquer construção no terreno da política, onde a relatividade das condições deve ser objeto da mais esmerada atenção e acurado estudo. Não quis sujeitar o imenso trabalho de eliminação e reconstrução que empreendeu e realisou em seu atrasado país, a mesma direção espiritual, que mais tarde, por ocasião da grande crise ocidental, fez de voltarianos e roussistas os mais implacáveis, embora inconscientes, inimigos da república francesa e da situação social correlata, situação admiravelmente compreendida por Danton.

Daí a má vontade que Voltaire manifestou constantemente pelo notável estadista português, que se não correspondia com ele, nem se impressionava demasiado com os seus temiveis sarcasmos.

Tal era a confusão do espírito metafísico, que o imortal autor do Dicionário Filosófico apenas conseguiu ver em Pombal "o amigo da inquisição" e um tirano que, só no intuito de gozar mais comodamente"

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