5 - O Regicídio
Vai mais além a audácia de Pombal. Estabelecendo a Mesa Censória entregue ao maçom frei Manuel do Cenáculo, ilustrado e em aparência tolerante, paralelamente reorganiza a Inquisição servindo-se do Santo Ofício como instrumento diabólico do seu despotismo. Dá-lhe o título de Majestade e põe à sua frente seu próprio irmão. Com a arma do Santo Ofício, que era uma espécie de tchecka ou G. P. U. daquele tempo, fazia odiada a Igreja - que em nada tinha influído nessa reforma emanada unicamente do poder civil sob cuja alçada se encontrava desde a sua instituição por D. João III. O Santo Ofício tornou-se o mais satânico tribunal, instrumento dos ódios do Marquês e da sua horda de agregados todos coesos nessa tenebrosa "Comuna Secreta". Por intermédio do execrável tribunal, conseguiu fazer mais de 800 vítimas entre a melhor fidalguia. Delas sobressaíram os Távora, principais acusados de regicídio; o Conde de Óbidos, o Visconde de Vila Nova da Cerveira, o Conde da Ribeira Grande, o Conde de Athouguia, entre muitas outras vítimas suas. A isso levou-o o pretexto do inquérito sobre o regicídio. Apossou-se, por esse fato, de tal modo do ânimo de El Rei ferido, que foi essa a ocasião propícia para tornar-se o ditador todo poderoso. De El Rei Dom José, pode dizer-se que, entregando-se a Pombal, experimentava um regime para o qual, parecia, estavam todas as tendências políticas da época anunciando grande futuro. Era o fruto daquela política liberal que se vinha fazendo na Europa toda depois da Reforma protestante e de que Portugal tanto se ressentiu após a Restauração.