Ensaios de etnologia brasileira

indicassem, ao invés do próprio filho um outro, o filho tinha que morrer. Diziam naturalmente que não tinha sido morto, mas "morreu à toa", porque o índio, em geral, não confessa haver matado um dos seus, a não ser que este representasse como um ruim feiticeiro, perigo para a comunidade. Segundo Buréku, este costume tinha por fim obter chefes de valor. Mas abandonaram-no porque trazia "grande sofrer".

Os missionários afastam os costumes antigos da vida dos seus alunos. Apesar disso, não podem evitar que o índio, como já referimos, queira voltar, com o passar dos anos, e cada vez mais, à forma de vida dos pais. É característico que mesmo índios tão "civilizados" como os Kaingang de Palmas e os Bororo nas missões e em Toriparu, que já quase completamente esqueceram os deveres tradicionais a respeito de uma vida que começa, não tenham esquecido os deveres a respeito de uma vida acabada. Hoje ainda, os habitantes de Toriparu sepultam, na forma do costume, as ossadas dos seus mortos num pântano vizinho, depois de tê-las descarnado. Em 1931, os índios de Sangradouro desenterraram do cemitério cristão o cadáver de uma de suas mulheres, para sepultá-lo à maneira da tribo, no que foram impedidos pelos padres, por já ter sido enterrado o cadáver com o ritual cristão. De resto os salesianos dão carta branca àqueles que querem sepultar os mortos à maneira antiga e que são, como dizem, em maior número do que se pensa.

Entre os Karajá e os Tapirapé, na medida do que pude observar, alteração alguma oriunda da influência da

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