nossa civilização se fez sentir na regulação tradicional da vida do indivíduo.
Naturalmente, o caráter duma tribo de índios é alterado decisivamente pela relação com os brancos. Pela finalização do estado de guerra e pela introdução de instrumentos de ferro, a dureza da luta pela vida é diminuída de modo que lhe transforma, não raro, em ociosidade, a índole combativa e produtiva.
A moral, sempre tendente ao utilitarismo, toma outras formas. Não que o furto e a mendicidade sejam desconhecidos entre os índios independentes. Mas, muitas vezes, no trato com os brancos aumenta a compreensão que os recomenda a ambos como os modos mais cômodos de aquisição. A abstinência de prazeres sensuais, considerada antigamente como preparação e até como uma defesa para a luta, é abandonada sem hesitação. E apesar disso, ainda agora dizem os Bororo que outrora o homem e a mulher podiam vencer a onça com a força do braço e correr mais depressa que o avestruz porque jejuavam tanto durante certo tempo depois do nascimento do filho, como durante a menstruação e em outras ocasiões e se uniam para o coito só uma ou duas vezes por mês e não, como hoje, uma ou duas vezes por semana. Um Bororo, na missão Meruri, me declarou não querer morar com seus companheiros de tribo nas aldeias independentes porque estes se matariam um ao outro "à moda dos brancos". Dizem que antigamente tais assassinatos eram raros. "À moda dos brancos" quer dizer: segundo o