Ensaios de etnologia brasileira

o idioma dos brancos. Também há concessões dignas de nota. Entre os Tapirapé acostumei-me a dizer txikantú, quando achava alguma cousa boa ou bonita ou quando me queria mostrar reconhecido à hospitalidade recebida - (expressões próprias para agradecer faltam em todas as línguas dos índios). Um dia, porém, o mais crítico e mais zeloso dos meus professores de tapirapé me ensinou que a minha maneira de falar era errada. Declarou que eu devia dizer auentxikantú, quando tencionasse proferir aquilo que queria manifestar em certos casos. Demonstrei-lhe que nessas ocasiões todos os Tapirapé costumavam responder-me com a mesma palavra, a saber, com txikantú. Então deu-me ele a entender que os seus corteses companheiros de tribo adaptaram-se a mim, passando a usar, em geral, essa expressão com o sentido que eu lhe tinha dado. Mais tarde aprendi que txi-kantú ou txe-kantú significa tanto como "eu (sou) bom", enquanto auentxí-kantú ou auentxé-kantú pode ser traduzida por "perfeitamente bom" ou "perfeitamente bem", como demonstração de alegria. Por outro lado, também eu me adaptei aos Tapirapé. Estes tinham aprendido de alguém a palavra portuguesa "marido", compreendendo-a, porém, como designação para o sexo masculino em geral. Assim aconteceu que um menino abriu os olhos à luz já como "marido"; e que aos nomes de animais de todas as espécies, desde que masculinos, essa palavra era posposta se se queria determinar mais exatamente. Para não causar confusão adaptei-me a esse uso espalhado em toda a aldeia. É, por certo, duvidoso que os Tapirapé

Ensaios de etnologia brasileira - Página 319 - Thumb Visualização
Formato
Texto