a vantagem que o novo machado lhe traz, e a desvantagem que teria se continuasse a usar o antigo ao invés do novo. E as necessidades, isto é, as condições da sua luta pela vida, fazem-no tomar o machado de ferro. Sendo, porém, oferecidos ao índio nova forma social, novo canto ou nova crença religiosa, ele não compreende a razão pela qual tenha de abandonar o tradicional ou misturá-lo com o novo. É verdade que, em geral, tal mudança rápida e radical só se refere a determinados elementos da cultura material. E, por outro lado, também há casos nos quais a cultura espiritual se altera, ficando a material essencialmente a mesma. Verifiquei um caso desses, por exemplo, entre os Chamacoco no Chaco (v. Baldus, Indianerstudien, p. 85), onde tribos que, há cinco decênios, ainda tinham formado unidade, estavam mais ou menos iguais na cultura material, tendo, porém, profundas diferenças na espiritual. É verdade que se tratou, nesse caso, antes de tudo, de uma mudança de cultura vinda de "dentro".
Se bem que os Kaingang de Palmas estejam em contato contínuo com os brancos há cerca de um século, só agora é que se aproximam, ao que parece, da última etapa de sua "mudança total de cultura", o que é também indicado pelas palavras do ancião chefe, segundo as quais a nova geração só pensava em ganhar dinheiro, enquanto os velhos "viviam de ideias". A mudança na cultura material efetuou-se quase completamente; mas as partes essenciais da cultura espiritual, como a organização social, a língua e o culto aos mortos, são ainda conservados.