Ensaios de etnologia brasileira

se uma mudança nesta cultura é efetuada graças ao contato com os europeus, os índios no Brasil, a este respeito, reagem com menos volubilidade. A falta de flexibilidade, que ordinariamente mostram em relação às influências da nossa civilização, lembra diretamente a hipótese agora de novo alimentada pelo estudo do cultivo índio das plantas úteis, segundo a qual os índios brasileiros são sobreviventes de povos de alta cultura. Assimilação recíproca do novo à sua cultura e desta ao novo, isto é, mudança parcial de cultura, é rara, acontecendo em casos especiais, quando muito, só na cultura espiritual de certas tribos, por exemplo na mitologia. Nesta às vezes, e de modo estranho, elementos da história bíblica são absorvidos por um mundo de ideias índias. Em geral, os bens culturais europeus, depois de sua intrusão, formam, primeiramente ao lado da antiga cultura índia, causando, depois, o desaparecimento dela. Um bom exemplo dessa coexistência cultural é representado, como vimos, pelos Bororo nas missões e tanto na cultura material como na espiritual, no caso de os homens levarem ainda de baixo das calças o estojo peniano e as mulheres de baixo do vestido o traje de entrecasca, e no caso de ao lado da crença cristã existir a dos bope. Além disso, a história do Brasil ensina que a perda total da antiga cultura se deu em todas aquelas tribos de índios que ficaram em relação permanente com os brancos. É verdade que em tais casos as culturas índias não desapareceram sem deixar vestígios, mas causaram mudança parcial na cultura trazida ao Brasil pelos europeus. Encontramos, hoje, entre

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