ilustração, fama derramavam-se sobre os seus brasões com proventos mais sólidos do que se tivessem reconquistado a Terra Santa. A cruzada do Extremo Oriente tinha sobre as outras a vantagem de celebrizar e enriquecer. O monopólio do comércio nos mares da Índia trazia enorme tesouro para as arcas nobres de Portugal. Provocava também verdadeira loucura coletiva no povo. O estanco da pimenta realizado pelo governo português é um dos episódios mais prodigiosos da história econômica do mundo.(4) Nota do Autor

A coroa dedicou-se às conquistas como o jogador que arrisca numa cartada a sua fortuna e porvir. Um dos resultados da situação foi aparecer na corte uma classe quase parasita — a nobreza palaciana mantida pelo trono — destinada à administração do reino, e que ia ter bela folha de serviços, quando fora da corte, na direção das colônias. O povo sofreu igualmente grande transformação. Foram os campos abandonados, a indústria continuou desprezada, o comércio caiu em mãos de alemães e italianos, enquanto o português encontrava a morte onde havia ouro e especiarias.

D. João I fora compelido a distribuir fartas mercês aos que o tinham auxiliado. Ordens religiosas, grandes vassalos, nobres e burgueses receberam recompensas maiores do que comportavam as rendas do Estado. Mais pródigo ainda foi o fraco Afonso V, que deixou a D. João II