seu patrimônio. As irmandades desenvolviam-se no instinto de cooperativismo que se despertava no povo ante as exigências da solidariedade neste mundo e da salvação no outro. A Semana Santa e o Pentecostes agitavam todos. As procissões e tedéus movimentavam as ruas, tanto quanto o entrudo, o jogo da bola e as cavalhadas, alvoroçando-se a modorra tristonha das cidades e arraiais com a prosperidade do comércio de ocasião, engordado nos aparatos do culto, desde o vendedor de cravos nos portais das igrejas ao mundo profano das modistas e dos armadores. O elemento oficial não perdia a ocasião de prestar concurso ao brilhantismo dos festejos da Quaresma, e do Natal a Reis, comparecendo os mais altos funcionários ao transporte dos pálios, dos círios e dos santos, de balandrau e opa. O Santíssimo reclamava armas apresentadas em continência e partia as guardas de posto a posto. Saíam os comboios fúnebres ao acender Vesper a sua tocha distante. A morte acompanhava-se rigorosamente do ritual da Igreja. Vestiam‑se os defuntos com os hábitos das ordens religiosas, para facilitar acessos ao céu em trajes conhecidos e recomendáveis . Enrolava-se o negro na esteira onde apodrecera na senzala, mas ao cavaleiro de Cristo deitavam no caixão com o seu