O feudalismo, que durou cerca de mil anos (do meado do século V a meados do século XV), pode ser dividido em três etapas: o alto feudalismo, quando aparecem e se formam suas relações de produção, ao se desintegrarem as relações anteriores caracterizadas pelo escravismo; o feudalismo desenvolvido, abrangendo os séculos X a XIV, quando surgem as cidades ao redor dos castelos e mosteiros, desenvolvendo-se o comércio e o artesanato, despontando as manufaturas e o capital mercantil, formando-se os mercados internos e externos, ou seja, novos fatores econômicos, desempenhando papel de relevo, antes desconhecidos; o último período, que se caracteriza pela desintegração das relações feudais de produção, com o processo de acumulação de capital incipiente e preparação do modo de produção capitalista no seio do feudalismo.
O monopólio do ensino e da cultura pela Igreja e pelos mosteiros até os séculos XIII e XIV tornou o pensamento teórico, inclusive o econômico, fundamentalmente teológico e canônico. Entretanto, sob o influxo da expansão das relações mercadoria-dinheiro e do crescimento das cidades, os canonistas encararam com maior relevo os problemas da produção mercantil, do câmbio e da usura.(21) Nota do Autor O Mediterrâneo voltou a ser dominado pela Europa Ocidental, nas transações com o Oriente, após as Cruzadas.
Nessas condições, vários concílios e numerosos teólogos, eclesiásticos e laicos, começaram a tratar do assunto, embora sua preocupação fosse sobretudo religiosa. Havia mesmo a máxima: Philosophia ancilla teologiae.(22) Nota do Autor A doutrina elaborada procurava inspirar e dirigir o homem como fator econômico em nome e em virtude de princípios supraeconômicos, ou seja, subordinando a economia à moral. Embora tomando por base os filósofos antigos, particularmente Aristóteles, o cristianismo reabilitou o trabalho, desprezado pela Antiguidade, proclamou a fraternidade humana, apesar de aceitar a desigualdade das condições. As principais aplicações da doutrina ético-econômica dos escritores escolásticos, entre os quais se destacou Tomás de Aquino, concerniam: 1. na legitimidade da propriedade, por estar conforme o direito natural; 2. na remuneração do trabalho segundo o justo salário e o justo preço das mercadorias; 3. na remuneração do capital, o que constituía questão de difícil solução, já que era proibido o juro; 4. no comércio que era visto com desconfiança,