Viagem ao Araguaia

cinco palmos (mordedor); a arapuá (torce-cabelo), que constrói sua morada em cupins negros, por cima das árvores, e que tem a propriedade incômoda de entranhar-se pelos cabelos e arrancá-los, produzindo um zumbido desagradável.

Descemos para a gruta por um plano levemente inclinado; ela não é muito grande, tendo, ao todo, cerca de dez braças a parte que examinamos. É dividida em duas abóbadas, sendo a divisão formada por uma arcada mais baixa do que um homem e sustentada por duas estalactites, imitando duas colunas jônicas, cuja alvura semelha mármore.

Nada de mais curioso do que a parte superior dessas abóbadas: as estalactites cristalizadas semelham ora um espinhaço de peixe, ora dentes de animais, ora colunas, ora desenhos fantásticos sobre a rocha, cuja cor negra lhes faz ressaltar a alvura.

À direita de quem entra, cerca de duas braças distante da entrada, existe uma fenda, que dá para vastos salões, que não pudemos examinar, porque não levamos luzes, e os práticos dela fizeram-nos desistir do exame, com o receio de cairmos em algum precipício, ou perdermo-nos no meio do dédalo de quartos aí formados pela natureza; a outra parte da gruta, porém, foi completamente examinada; ora de pé, ora arrastando-nos como répteis, conseguimos examinar os recessos mais escuros da mesma, graças a uns fósforos de velas que um de nossos companheiros por felicidade levava. O receio não era pequeno; eu, que penetrava na frente, sofri um grande medo, porque, quando estava empenhado em tirar-me de um estreito achatado, por onde procurava penetrar para um salão que avistara, um dos soldados que nos acompanhava bradou, cheio de terror: "Olha um bicho!" Felizmente, seu terror era sem fundamento