Viagem ao Araguaia

meses, sem que jamais se encontrassem os importadores com os exportadores, que indicará? É bem de supor que, com semelhante cautela, procuravam os jesuítas conservar em segredo as minas achadas (que não duvido fossem as dos Martírios), e o mais foi que conseguiram.

A respeito destes jesuítas, ainda tenho mais que ponderar sobre as minhas encobertas, porque no segundo tomo dos Sermões do padre Antônio Vieira, há quarenta anos, li um da primeira oitava da pachoa, com o tema Qui sunt hi sermones, quos confertis ad invicem ambulantes et estis tristes? e em que, de propósito, Vieira dissuadia o povo do Pará da veracidade de umas minas, cujas amostras corriam pela cidade, dizendo que o ouro era fundido; o que ainda se pode ver no mesmo sermão, se algum curioso conserva os deste grande orador. Não posso entender como pode um pregador do caráter de Vieira, sem prevenção, formalizar assuntos, para um sermão de mistério, das amostras falsas ou verdadeiras de ouro que apareceram na cidade de Belém do Pará! Que cuidado deveria causar a um missionário a invenção de minas auríferas?...

Assaz se me representa, por estas prevenções, pela cautela do armazém as águas enlodadas, que não era falsa a notícia das minas do sertão, e, sendo este descobrimento verdadeiro, podemos dizer que o ouro foi conhecido na capitania do Pará antes que na de São Paulo e que a sua pátria é o terreno que medeia entre o rio dos Arinos e o Araguaia(1)Nota do Autor; ac per consequens: ali se deverá