Viagem ao Araguaia

procurar, examinando os rios, serras e campanhas, a que chamam tabuleiros, pois que mineiros não devem procurar, como costumam, formações, porém ouro, que é objeto da mineração. Tenho expostas as razões que me obrigam a considerar verdadeiras as minas dos Martírios, que para mim já não serão fábulas imaginadas, ou patranhas de sertanistas; resta sabermos por que meios poderão ser descobertas. Proponho já os meus sentimentos, que a muitos parecerão paradoxos, porque são meus. Sabido já que nos intervalos dos rios Arinos e Araguaia existem estas minas, e que elas estão em um dos rios que despejam no dos Arinos, claro fica que a expedição, digo, a exploração, deverá ser feita descendo pelo mesmo rio dos Arinos, até a foz do rio Tapajós, de João Viegas, ou de São João, de João de Souza; e, subindo este rio, deverão examinar todos os que da parte oriental nele entrarem, até as suas origens, e, frustrada esta primeira diligência, deverão descer a procurar a outra seguinte barra, e deste modo se fará a indagação por um e outro lado.

Depois deste exame, poderão os aventureiros recolher-se a esta vila, pelo caminho de terra, com menos custo e trabalho, do que subindo novamente o rio dos Arinos. Este modo de indagar é mais trabalhoso e mais dispendioso; porém, sem contradição, mais seguro do que por terra, sem conhecimento dos rios que vadeiam, das serras que encontram, e ainda da terra que pisam, em uma campanha tão vasta e sem prático; mas, quando se haja de tentar o descobrimento dos Martírios pela via de terra, já se vê que será sempre a derrota rumo ao norte de Cuiabá, examinando as fraldas e cumes das serras que forem suscetíveis de exames e todos os rios que encontrarem, sem exceção, dos mesmos ribeiros manantes das serras; e, neste caso de terra, poderão os exploradores conduzir na sua mesma bagagem gado manso, que lhes servirá