Viagem ao Araguaia

O administrador em Goiás, mais do que em outras províncias, tem obrigação, ou de pôr termo a esta longa inanição em que vivemos, ou de largar a carga e dizer: "não posso."

O sentimento deste dever é que me faz escrever este artigo e emitir opiniões a respeito de cada uma das matérias acima apontadas, tais quais elas existem em meu espírito.

Não podem lisonjear, visto que contrariam os interesses presentes dos habitantes desta capital; são, porém, a expressão da verdade; indicam o caminho para a felicidade, e, se houvesse tempo, assim como as emito agora, as realizaria, fossem quais fossem os embaraços, na certeza de que algum dia me seriam reconhecidos.

Longe de prosperar, a cidade de Goiás tem decaído: quem passeia por seus arrabaldes sente-se constantemente entristecido pelo aspecto das ruínas que observa.

Ali, aparecem os muros da antiga chácara do Horto, com seus jardins, outrora plantados de árvores distribuídas em ruas cobertas de areia branca; mais adiante, aparece a tapera do Neiva, coberta de urzes e espinhos, e que fora há tempos uma situação deliciosa, coberta de parreiras, das quais se fabricavam pipas de excelente vinho de uva; além, vê-se, cavado no piçarrão da estrada, um rego-d'água — era uma fábrica de tecidos, cujos maquinismos complicados e difíceis substituíam a força do braço do homem pela força d'água, e cujos numerosos produtos supriam as necessidades dos habitantes e chegavam para exportação; mais além, é a chácara do Artiaga, plantada de um magnífico pomar, enriquecida de tanques, onde se criavam peixes; em suma, não há um só lugar onde se não veja uma ruína, testemunha de uma grandeza passada e que já não existe.